A Academia das Musas

Há filmes que são muito mais do que filmes, que abrem espaço para reflexões sobre a vida, que filosofam sobre a existência, que vêm para abalar nossas certezas. A Academia das Musas é mais ou menos isso. Transita por vários níveis de cinema. Os créditos, a câmera e as cenas iniciais vendem um documentário sobre um professor de filologia que debate com seus alunos em sala de aula o amor, a arte e a inspiração. Para Raffaele Pinto, o amor é uma criação dos poetas e as musas são essenciais para que os artistas produzam seus conteúdos intelectuais, o que gera uma discussão em especial com suas alunas, que vêem nesta condição da mulher como objeto do desejo uma postura machista que reproduz séculos de cultura patriarcal. Como debate intelectual, o filme pode ser delicioso para quem se interessar pela verborragia interminável dos discursos entre professor e estudantes, entre os alunos, e entre o mestre e sua esposa, em casa. As discussões acontecem de maneira tão orgânica quanto Guerín dispõe sua câmera, quase um outro personagem no filme, que fica íntima dos interlocutores acompanhando cada tópico dentro da classe ou através dos vidros da casa, do carro e da cafeteria para onde os debates migram naturalmente. E, deste mesmo modo natural, quando amplia o espaço da palavra, quando leva teorias e conceitos para fora da sala de saula, o diretor transforma seu próprio filme, que incorpora suas discussões à própria vida e, de maneira quase invisível, transforma aquelas pessoas em personagens e aquele documentário vira uma ficção, que vai explorar as mesmas ideias debatidas nas aulas, levando-as a cabo, registrando na prática o que se debateu no verbo: toda mulher tem o desejo e a obrigação de ser uma musa? O amor existe ou é invenção da arte? A perguntas como essas, Guerín adiciona pelo menos mais dumas: o que é vida e o que é simulacro? Onde termina o registro e começa a criação?

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[La Accademia de las Musas, José Luís Guerín, 2015]

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