A Bruxa

A Bruxa talvez assuste menos do que deveria, mas o horror que o diretor Robert Eggers procura é outro. Embora o fantástico, o místico, o sobrenatural assombrem as personagens do filme de maneira muito concreta, o terror maior do longa de Eggers é o provocado pelo homem. A história se passa em 1630, na Nova Inglaterra, nos Estados Unidos, um lugar tomado à força de seus verdadeiros moradores, que tiveram suas terras e seus deuses roubados em troca da truculência de uma cultura e de uma religião que elegem demônios diante do menor motivo. O horror de A Bruxa é o horror de apontar culpados, de ignorar laços familiares, de ignorar o amor em prol de uma fé cega. A família de William é expulsa de uma cidade por questões religiosas, muda-se para um campo ao lado de uma floresta e, num piscar de olhos, o caçula da família, o bebê Sam, desaparece enquanto brincava com a irmã mais velha, Thomasin. Diante de uma situação sem explicação, o luto da família é trocado, literalmente, por uma caça às bruxas, onde sussurros e brincadeiras podem ser mal interpretados. A formação de Eggers é como diretor de arte, então, existe uma preocupação clínica com a reconstituição de época, o desenho de produção, os figurinos e a plástica do filme como um todo, que é impecável, embora resulte num excesso de solenidade e numa frigidez que só é quebrada pelas interpretações. Anya Taylor-Joy e, sobretudo, Harvey Scrimshaw são excelentes. A expressão Katie Dickie, revelada em Game of Thrones, e a voz de trovão de Ralph Ineson ajudam a manter a atmosfera de incertezas. Se o filme não dá os sustos que poderia, aterroriza pela maneira que mostra o ser humano.

A Bruxa EstrelinhaEstrelinhaEstrelinha½
[The Witch, Robert Eggers, 2015]

Comentários

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4 comentários sobre “A Bruxa”

  1. Gostei demais desse filme. Sem abrir mão do fantástico ele se concentra a maior parte do tempo no psicológico, em construir um clima de desconfiança, próprio do ser humano. Espero que seja uma tendência para os novos filmes de terror, sem criaturas rídiculas em CGI pulando na tela o tempo todo.

    1. Eu me divido com relação á Thomasin. Se ela sempre foi uma ou se torna após o assinar o livro. Pois quando na cena do celeiro os gêmeos gritam ao ver a bruxa, ela “acorda” ,grita e nada mais acontece ate William achar ela com o celeiro destruído e as cabras mortas,quando ela diz que a bruxa veio do céu. A cena final parece ser a repetição factual do que ela inventa ou não ao falar para a gêmea que sua alma dança nua com o Diabo. Além disso alguém mais percebeu o olhar do bebê antes de desaparecer? Ele muda a expressão como se ela tivesse se transformado por um instante. Além disso a bruxa vista carregando o bebê, usa uma.capa vermelha, e reparei que o bebê estava deitado num pano vermelho também. Porem por outro lado a bruxa que seduz Caleb, tem mãos enrugadas. Porque Thomasin se transformaria (e ai a hipótese do incesto) e mesmo assim teria mãos enrugadas? Essa dúvida é colossal. Excelente filme.

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