Alois Nebel

A animação em rotoscopia – a técnica pela qual se desenha sobre imagens previamente filmadas – ganha um capítulo à parte com o filme tcheco Alois Nebel. O longa é uma adaptação animada da trilogia de histórias em quadrinhos criada por Jaroslav Rudiš e Jaromír 99 sobre a vida de um ferroviário na Tchecoslováquia do fim dos anos 1980.

O personagem-título vive numa pequena cidade próximo à fronteira com a Polônia, numa época em que a Cortina de Ferro está prestes a deixar de existir. Sua vida comum, programada com a precisão de um relógio obsessivo, reprisada como os horários dos trens, que ele repete a esmo, é transformada quando Alois Nebel começa a sofrer de alucinações que misturam presente e passado, sonho e realidade.

Se existe uma certa burocracia na condução da trama, meio malabarista e um tanto complexa, o trabalho de animação em si é fabuloso. Totalmente realizado em preto e branco, o filme tem alguns dos melhores jogos de luz e sombra que o cinema produziu nos últimos tempos. Jogos que traduzem bem o estado de delírio em que vive o personagem principal e que abrem espaço para que os flashbacks sejam inseridos sem trauma à trama.

A República Tcheca, numa decisão corajosa, escolheu a animação para representar o país na corrida pelo Oscar de filme estrangeiro no ano passado. O longa não foi um dos finalistas, mas ganhou repercussão internacional e recebeu vários prêmios e indicações ao “Oscar tcheco”. A mais surpreendente foi a de melhor ator coadjuvante para Karel Roden, que interpreta “O Mudo”. Roden pode ser visto em carne-e-osso como o homem com poderes místicos no longa Quatro Sóis.

A costura da trama atual a fatos acontecidos na Segunda Guerra Mundial guardam algumas obviedades e lugares comuns, mas o problema parece ser anterior ao filme. Embora a inexperiência do diretor Tomás Lunák, em seu primeiro longa, apareça na falta de fluidez e de clareza na resolução de alguns conflitos, Alois Nebel tem achados que dão pistas de que uma bela carreira vem por aí.

Alois Nebel EstrelinhaEstrelinhaEstrelinha½
[Alois Nebel, Tomás Lunák, 2011]

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