Uma opereta kitsch de ação sem pudores e sem vergonha. Esta é a definição ideal para Anjos & Demônios, novo filme de Ron Howard, que adapta Dan Brown pela segunda vez, fazendo um prequel de O Código da Vinci (2006). Primeiro, é bom que se entenda o que é o material antes de cair matando em cima dele. Os livros de Brown são literatura golpista, fajuta e espertinha, que recicla personagens, símbolos, boatos e histórias da Igreja Católica na forma de thrillers caça-níqueis, calcados na capacidade de provocar polêmica e abocanhar muitos dólares. Então, o que esperar de um filme baseado num livro que mistura a produção de antimatéria a uma trama para assassinar o papa, já que o cinema precisa transformar o texto numa experiência audio-visual?

Ron Howard, um genérico de Hollywood, diretor ideal para esse tipo de empreitada, entendeu qual era o serviço e resolveu fazer um filme ainda melhor (ironia, entendeu, entendeu?) do que O Código Da Vinci. Acelerou bastante o ritmo, injetou toneladas de CGI, cortou o cabelo do Tom Hanks, pediu uma trilha descaradamente brega – que lembra os bons tempos do Enigma – ao James Horner e ainda criou uma das cenas mais deliciosamente cara de pau dos últimos tempos, protagonizada por Ewan McGregor nos céus do Vaticano sob os olhares de “what the fuck?” de centenas de figurantes. Bem, o cara conseguiu: inventou uma nova marca na escala para gigantismo e mandou a megalomania do autor para a estratosfera (ou quase isso).

E eu que o achava, até alguns meses atrás, um dos diretores mais desprovidos de talento de Hollywood, dono de filmes absolutamente desinteressantes como Uma Mente Brilhante ou Um Sonho Distante. Mas aí o homem faz Frost/Nixon, elegantíssimo filme político, bem dirigido, interpretado, fotografado e editado e quem diz o “what the fuck?” sou eu. Howard ganhou meu respeito e deu pra entender este seu novo longa como um respiro depois de um filme infinitamente mais difícil de se fazer com sobriedade. Aqui, ele fuma do mesmo cachimbo de Dan Brown, apaga a sobriedade e pisa no acelerador sem o mínimo pudor de parecer um golpista. É genial que existam filmes tão sem vergonha quanto Anjos & Demônios.

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[Angels & Demons, Ron Howard, 2009]

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34 comentários sobre “Anjos e Demônios”

  1. Sinceramente a adaptação para o cinema de Anjos e Demônios foi péssima. Li o livro duas vezes e os caras viajaram na maionese. No entanto, se me perdoa o autor deste post, chamar Dan Brown de golpista é forçar a barra demais.
    O cara falou o que realmente é verdade, principalmente sobre os “segredos” da Igreja Católica. Quem quiser conhecer um pouco mais sobre a Igreja, vide capítulo especial da história da humanidade: Santa Inquisição.
    Agora, com uma coisa eu tenho que concordar, o final do livro Anjos e Demônios, quando Robert Langdon pula do helicóptero com a lona de cobrir a frente do helicóptero, essa realmente foi forte.
    Mas, o que vale mesmo é ter a oportunidade de ver tantas opiniões formadas. Como professor, admiro isso.
    Abraço a todos.

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