François Cluzet, Marion Cotillard, Gilles Lelouch, Benoît Magimel, Jean Dujardin, Valerie Bonneton, Pascale Arbillot, Laurent Lafitte

Filmes sobre reuniões de amigos já carregam em si um diferencial em relação aos outros: a temática invariavelmente terá um forte conteúdo emocional. Cabe ao roteiro estabelecer os laços entre os personagens, mas cabe ao espectador decidir se envolver ou não com os dramas paralelos que constroem a trama. Até a Eternidade segue bem a fórmula do ‘filme de amigos’, partindo de um evento traumático para desenhar as relações entre os protagonistas.

A cena de abertura é promissora: um enorme plano-seqüência que apresenta o coadjuvante mais central do filme. É o desfecho desta cena, a única que mostra a tentativa de se se criar algo minimamente novo, que justifica a trama. Durante 154 minutos, o diretor e roterista Guillaume Canet se propõe a colocar em xeque as certezas de cada um dos personagens, assim como as convicções do espectador sobre eles.

O cineasta montou um elenco repleto de estrelas – entre elas sua mulher, Marion Cotillard – e entregou para cada um de seus atores um estereótipo: o homem de negócios durão, a esposa controladora, a solteirona que não consegue engatar uma relação séria, o casado namorador, o bobão, o homem sensível, a mulher submissa. O que vem a seguir é uma sucessão de situações que explora as características de cada um, estabelecendo suas histórias pessoais.

É do atrito entre essas histórias que nasce o motor do filme. A questão é que não existe nada realmente empolgante nesses atritos, que são variações em tom pastel dos conflitos que vemos neste gênero há algumas décadas. E se o roteiro não sai da superficialidade, não mergulha nos dramas, quase todos os atores trabalham no modo funcional, servindo ao que se pede de seu personagem, sem criar nada. O elenco, assim como as pessoas que eles interpretam, parece estar de férias, brincando entre amigos.

A performance de François Cluzet, mas parecido com Dustin Hoffman do que nunca, traz a neurose do personagem para um nível de caricatura, enquanto Benoît Magimel parece estar sempre treinando para atuar como um homem apaixonado e nunca entra em cena de verdade. Do elenco, além de Marion Cotillard, bastante correta, quem mais acerta na composição é a ótima Valérie Bonneton, que transforma o que poderia facilmente se transformar numa personagem clichê no ser humano mais real do filme.

Mesmo com tantas simplificações, o filme fez uma bilheteria volumosa na França, o que explicita que cada espectador compra uma história de um jeito diferente. Mas, para um filme que se propõe administrar conflitos, pouca coisa realmente se movimenta. A virada que conduz à seqüência final, na mesa da praia, é de um maniqueísmo evidente, feita para fazer o espectador chorar com suas ‘verdades doloridas’.  Não fosse o presente que o personagem de Joël Dupuch entrega para o de Jean Dujardin, Até a Eternidade morreria na praia onde os amigos foram passar as férias.

Até a Eternidade EstrelinhaEstrelinha½
[Le Petit Mouchoirs, Guillaume Canet, 2010]

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5 comentários sobre “Até a Eternidade”

  1. Em tempo, o filme é bem fraquinho, parece uma refilmagem francesa de “O Reencontro”, com o Jean Dujardin fazendo o papel do Kevin Costner. A diferença é que, diferente do que aconteceu com o Costner, as cenas do Dujardin não morreram na sala de montagem.

    O que eu menos engoli no filme foi esse grupo que se diz amigo do personagem do Dujardin (o que é confirmado pela sequência dos vídeos caseiros), e que, mesmo assim, não adia a viagem para a casa de praia e deixa o cara vegetando na cama do hospital. Mui amigos…

  2. de fato, a gente fica esperando que alguma coisa aconteça na “trama”, mas não rola nada. não tem clímax, não tem NEM UM conflito central e a experiência é frustrante.

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