A arte pode transformar. O poder das palavras de um livro não é mensurável. Balzac e a Costureirinha Chinesa é um filme sobre a capacidade de revolução de uma obra. Acompanhando a história de dois amigos burgueses levados para um campo de reeducação pelo regime de Mao Tsé Tung, o longa-metragem versa sobre como os livros podem reconstruir a uma vida. A costureirinha analfabeta que cruza o caminho da dupla é quem mais sente as mudanças causadas pelos livros proibidos pelos comunistas. O tom é plácido, contemplativo e delicado. E, por isso mesmo, óbvio, mesmo sem querer ser.

A mecânica é a mesma do cinema oriental preguiçoso: explorar a naturalmente espetacular paisagem, a revelar a beleza dos pequenos gestos por trás das tradições seculares e reverenciar a simplicidade, a timidez, a particularidade. No entanto, o mais frustrante no filme é como ele não sabe desenvolver a transformação da personagem, que é abrupta e filmada de maneira primária. O salto espaço-temporal no final da história não se justifica, não tem razão de ser na trama. Balzac e a Costureirinha Chinesa, com sua plástica natural, engana à primeira vista, mas revela um diretor imaturo e até ingênuo, que fez um filme bonitinho. E só.

Balzac e a Costureirinha Chinesa
[Balzac et la Petite Tailleuse Chinoise, Dai Siji, 2002]

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