Blue Jasmine

O conto moral, por sua própria natureza, tende a apontar culpados. Os protagonistas geralmente são submetidos às conseqüências dos atos que cometeram e, mesmo que o narrador se desdobre para apresentar todas as facetas de suas personalidades, os personagens parecem destinados a alguma estância de condenação. Partindo destes pressupostos, Blue Jasmine é um conto moral clássico, com sua personagem-título sendo submetida incessantemente a todo o tipo de provas. Situações que abalam seu emocional e sua própria sanidade – e que colocam o espectador naturalmente do seu lado.

Mas Woody Allen, manipulador experiente, assume o papel de algoz: o diretor não tem pudores em explicar em flashbacks didáticos demais o porquê de tudo o que está acontecendo na vida de Jasmine. Cate Blanchett interpreta uma ex-socialite de hábitos requintados que viu a vida de jantares, festas, compras e viagens ruir depois que sua família foi à falência e seu marido, preso. É obrigada a trocar uma Nova York de grandes apartamentos e ruas luxuosas pela São Francisco de cômodos apertados onde vive sua irmã nada refinada.

Às vésperas de completar 78 anos, Allen parece querer investigar um dos assuntos da moda, a crise financeira. Mal sabe ele que o tema já anda um pouco defasado e que adotar esse tom de acusação para anabolizar a culpa de sua protagonista não ajuda muito a dinamizar o novo filme. Blue Jasmine trabalha com opostos definidos e conceitos velhos (rico = vilão, desonesto, infeliz; pobre = mocinho, honesto, feliz). Essa fórmula incomoda o ponto de o filme, não poucas vezes, parecer uma reciclagem de temas e posturas explorados anteriormente – e melhor – tanto por Allen quanto por outros de seus cineastas favoritos.

Nos resta acompanhar a maneira encantada como o diretor filma Cate Blanchett, sempre gigante na tela, estando a câmera fechada em seu rosto ou acompanhando de longe seus movimentos. É apenas na forma como enquadra a atriz que Allen parece ter alguma consideração pela personagem. E Blanchett engole o texto e devora seus colegas de cena, todos bastante funcionais, mas a serviço de sua performance monstruosamente perturbada. Por causa desta grade atriz, a tragédia da triste Jasmine é finalmente humanizada.

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[Blue Jasmine, Woody Allen, 2013]

Comentários

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3 comentários sobre “Blue Jasmine”

  1. Acho que gostei do filme um pouquinho mais do que você, chico. Me fascinou a fotografia, muito hábil em lugares pequenos e belos closes na cate, em belíssimo momento, aliás.

  2. Eu tô doida pra ver esse filme desde de sua pré-produção, porque junta três pessoas que adoro: Woody Allen, Cate Blanchett e Sally Hawkins (que para mim é uma atriz barbaramente subestimada. Mas não posso falar muito disso porque minha opinião é baseada no fato dela ter feito a versão cinematográfica do meu livro favorito…)

    Enfim, gosto dos filmes dele por sua ironia e pelo fato dele colocar os personagens em situações inverossímeis, como foi em “Para Roma com amor” e suas cenas do cantor de ópera do chuveiro.

    Pela sua crítica, essa vai ser um filme de entretenimento puro. O que não é exatamente ruim. Bom, saberei dentro de algumas horas quando finalmente vou conseguir vê-lo!!

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