Clube dos Cinco

John Hughes foi o cineasta que melhor traduziu o jovem norte-americano nos anos 80, a década perdida, a década pasteurizada. Foi ele quem deu voz aos nerds, deu texturas às patricinhas, pôs sentimentos nos atletas, explicou comportamentos agressivos e discutiu quem vive à margem dos colegas. Em Clube dos Cinco, seu maior e melhor filme, que completa 30 anos e vai ser exibido hoje, amanhã e na quarta em vários cinemas da rede Cinemark pelo país, Hughes fez o que nenhum outro cineasta de sua época ousou fazer: fez de cinco estereótipos, cinco protagonistas. Enclausurou-os num filme em que mal contracenam com outros personagens. Procurou humanizar e entender cada um deles sem fazer concessões.

Se funciona como filme para a Sessão da Tarde, onde, por sinal, foi reprisado inúmeras vezes desde o fim dos 80, Clube dos Cinco vai muito além do que se acostumou a considerar um filme teen. Seu fundamento está no diálogo. Este é um filme que poderia interessar a Woody Allen ou Richard Linklater porque seus achados estão quase que totalmente concentrados no texto ou na capacidade do texto de identificar seus personagens e sua capacidade de interação.

A divisão entre os grupos nas escolas americanas está presente em qualquer filme adolescente da época (ou das décadas seguintes), mas até então o cinema comercial do país nunca havia tratado com seriedade o tema. Ao trancafiar seus cinco diferentes protagonistas, longe de seus grupos de origem, de seu habitat, Hughes lança uma grande discussão sobre deslocamento, aceitação, integração e, por fim, solidão. Cada um daqueles jovens se percebe condenado a escolher uma etiqueta para si próprio para conseguir sobreviver.

Mas o filme não funcionaria se não tivesse encontrado cinco protagonistas especiais. Anthony Michael Hall empresta uma melancolia impressionante ao CDF que não se perdoa por um erro no projeto de ciências, enquanto Molly Ringwald encontra sensibilidade dentro de uma patricinha “vazia”. Emilio Estevez e Judd Nelson dão nuances ao atleta coxinha e ao maluco revoltado e Ally Sheedy, com olhares e gestos e quase nenhuma palavra, defende sua colegiaL esquisita, quase autista. Todos viraram ícones do jovem no cinema americano. Talvez por serem tão honestos ao dar vida a seus personagens.

Na sequência mais importante de Clube dos Cinco, em que os jovens se questionam, se confrontam, se desafiam para, no fim, entender a natureza de suas diferenças, diferenças muitas vezes irreconciliáveis, Hughes poderia optar pela conciliação que o cinema teen americano proporciona para o público. Hughes entende que o público-alvo deste filme não é a massa, mas o indivíduo. Um indivíduo que, como ele, sabe que finais felizes têm desdobramentos e variações. O final de Clube dos Cinco é feliz, mas não porque seus protagonistas diferentes ficaram amigos e, sim, porque eles começaram a enxergar na diferença uma possibilidade tão válida quanto a deles. Hughes, brilhante, explica os adolescentes na linguagem deles, no cenário deles, na Sessão da Tarde.

Clube dos Cinco

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[The Breakfast Club, John Hughes, 1985]

P.S.: outro clássico de John Hughes, Curtindo a Vida Adoidado.

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20 comentários sobre “Clube dos Cinco”

    1. Um Tira da Pesada, De Volta Para o Futuro, Indiana Jones e o Templo da Perdição, O Enigma da Pirâmide, O Exterminador do Futuro, Jornada nas Estrelas II, A Ira de Khan, Jornada nas Estrelas III. à Procura de Spock, Rambo, Rocky II a Revanche, A Testemunha, Inimigo Meu, Viagem Insólita, Top Gun.

  1. Meu cineasta e produtor favorito dos anos 80 e 90! Filmes q marcaram nossa juventude! ! Assisti à todos eles! Amo, mesmo com esses títulos nada a ver que os tradutores colocam aq no Brasil! Além de Clube dos cinco, gatinhas e gatões, a garota de rosa shocking, curtindo a vida adoidado, Férias frustradas I, II e III, Esqueceram de mim, Ela vai ter um bebê, alguém muito especial, etc… Só p citar alguns dos meus preferidos! O cinema perdeu com sua morte prematura.

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