Ai Weiwei: Sem Perdão

A inquietude de Ai Weiwei, o artista que, entre outras coisas, criou o estádio olímpico chinês para depois condenar a maneira como a China usava as Olimpíadas, é impressionante e encantadora. Libertário e engajado como poucos artistas hoje em dia, Ai Weiwei, o homem, é razão suficiente para que um documentário sobre ele seja, no mínimo, interessante, mas o filme de Alison Klayman tem um mérito que o torna essencial: em vez de apenas registrar a arte e o processo de criação de seu personagem, a cineasta parece interessada na mais simples da hipóteses em traduzi-lo, na mais complexa, em capturar seu espírito.

Isso explica porque a diretora dedica grande parte de seu longa a momentos que mostram, mais do que Ai Weiwei na intimidade, mostram sua essência inquieta. Um exemplo é a cena no hospital em que, fazendo referência a um dos trabalhos que o deixaram famoso, ele tira uma foto apontando o dedo médio para a câmera. A foto seria postada a seguir nas redes sociais, plataforma essencial para que o artista divulgue seu trabalho. O gesto agressivo, na verdade, era um gesto de carinho. Ai Weiwei, que acabava de sair de uma cirurgia, queria dizer para seus seguidores, para seu público que estava bem e, o mais importante, que continuava o mesmo.

Klayman também deu sorte: seguiu o artista durante um atribulado período de sua vida. Registrou momentos importantes como a destruição de seu ateliê pelo governo chinês, que o acusava de subversão, capturou um revolucionário em seu momento de revolução. Tão importante quanto a obra de Ai Weiwei é sua postura política em plena China da transição. No país de um bilhão, ele é um dos poucos que levantam a voz. E lista os jovens mortos num dos maiores terremotos da história do país em seu blogue. E dribla a censura e utiliza o Twitter. Klayman parece incansável em mostrar um homem incansável, mas nunca sem buscar atribuir a ele tanto o lado incansável quanto o lado homem.

Ai Weiwei: Sem Perdão se equilibra entre o retrato do artista e o documento do ativista, mas busca descortinar o homem, revelando a história de seu pai, apresentando a existência de seu filho, dando voz a sua mãe depois que ele é libertado de um cárcere: “estou feliz em vê-lo bem”. O homem Ai Weiwei está no centro do filme. Desta forma, Klayman consegue celebrar sua arte, registrar sua política e, de certa forma, traduzir seu espírito. Fica mais fácil decifrar o que está por trás da imagem ameaçadora daquele homem grande que nunca sorri e aponta o dedo para a câmera. Ali, está um inquieto genuíno.

Ai Weiwei: Sem Perdão EstrelinhaEstrelinhaEstrelinha½
[Ai Weiwei: Never Sorry, Alison Klayman, 2012]

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