O curta-metragem A Origem dos Bebês Segundo Kiki Cavalcante apresentou Anna Muylaert ao mundo do cinema. O filme, que narra a teoria de uma menina sobre o surgimento das crianças, é uma delícia de assistir: engraçado e inteligentinho. A estréia da cineasta no longa-metragem parecia promissora. E é assim que Durval Discos começa, como uma comédia de costumes leve e simpática. Ary França, embora alguns não concordem, vive muito bem o homem largado, o ser que ficou no passado, que estancou no tempo. Dono de uma loja de discos de vinil, ele se recusa a aceitar que sua paixão ficou ultrapassada, do mesmo modo que conduz sua vida.

 

Enquanto retrato do cotidiano, Durval Discos cumpre seu papel com eficiência e graça. O cenário da loja enche os olhos dos fãs de música brasileira. As referências musicais, na trilha ou nos diálogos, são deliciosas. A defesa que o personagem faz das qualidades do vinil remetem a Alta Fidelidade, de Nick Hornby, mas o filme de Muylaert não tem nada de pop. A cineasta não tem o poder de brincar com as possibilidades dos bastidores. E nem é esse seu intento. Durval Discos se perde quando a cineasta resolve transformar uma comédia simpática num mergulho psicológico nas personagens. Pessoas que vivem da corrupção de suas próprias vidas e que se alimentam de suas próprias frustrações. Aí, o filme se desequilibra e não se sustenta mais.

 

Durval Discos

Durval Discos, Brasil, 2002

Direção e Roteiro: Anna Muylaert

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