Entre uma série de diretores sempre à procura de lirismo para contar pequenas histórias, Pablo Trapero ocupa um lugar bem particular no cinema argentino. É um cineasta que não tem medo de transitar pelo lado mais mais sujo do país, de apontar o foco para a criminalidade e de dar voz para personagens à margem da sociedade. Seu novo filme, Elefante Branco é um belo exemplo. Um eficiente retrato de uma realidade que a Argentina não faz muita questão de mostrar.

Ricardo Darín, o ator mais requisitado do cinema portenho, interpreta um padre que tem como paróquia uma região suburbana próxima a Buenos Aires. Lá, seu papel é de apaziguador entre os traficantes do local, que vivem em guerra, e a polícia que faz vista grossa para o que acontece por ali. Embora a trama recorra a um mais-do-mesmo não muito diferente do que o espectador nos filmes brasileiros que tem as favelas como cenário, Trapero consegue compor uma visão multifacetada do caos que impera no lugar.

Essa habilidade fica clara nas muitas cenas rodadas em plano-sequência, sem cortes, que acompanham várias ações simultâneas com uma agilidade e um domínio de câmera que faz falta ao cinema de ação norte-americano. Como um maestro à frente de sua orquestra, num mesmo momento, Trapero coordena dezenas de atores amadores, movimenta a câmera para todos os lados, mantém um ritmo e administra a tensão. Boa parte destas cenas dura alguns minutos, o que dá ao trabalho um quê de tour de force.

Elefante Branco, exibido no Festival de Cannes deste ano, é o primeiro longa de Trapero depois de Abutres, filme em que o diretor peca ao reproduzir a narrativa circular e fatalista herdada dos trabalhos de Alejandro Gonzalez Iñarritu. Embora ainda não mostre o cineasta em plena forma, como nos ótimos O Outro Lado de Lei e Família Rodante, este novo filme indica que Trapero parece estar voltando à direção certa.

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[Elefante Blanco, Pablo Trapero, 2012]

Texto publicado originalmente no Uol.

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