Harry Potter e a Ordem da Fênix

Eu comecei a ler quadrinhos com uma revista que mostrava uma aventura dos Novos Titãs, o grupo de sidekicks (os parceiros adolescentes) dos heróis mais famosos da DC Comics. Os Titãs eram diferentes de todos os heróis que eu conhecia. Suas histórias mostravam muito mais seu cotidiano do que lutas espetaculares ou grandes sagas. Elas existiam, claro, mas eram minoria. Asa Noturna, Moça Maravilha, Kid Flash, Ravena, Mutano, Cyborg e Estelar eram adolescentes que começavam a ensaiar seus primeiros passos solo, encarando o mundo.

Assistir a Harry Potter e a Ordem da Fênix me fez lembrar muito dos Titãs. No quinto filme da série, Hogwarts é cenário de uma revolta juvenil. O motivo em questão tem menos a ver com hormônios e mais com responsabilidades. Os meninos da escola de mágicos se unem porque somente assim têm chances frente a um mal tão desconhecido quanto assustador. Mal que pode fazer com que eles, meninos, morram, deixem de existir, percam seus queridos, percam o mundo como conhecem.

O novo longa impõe ao grupo o peso de uma idade adulta precoce contra o que está errado e contra a ditadura. Desta vez não apenas Harry está na contramão. Ele e seus fiéis Ronnie e Hermione ganharam aliados, que ainda não sabem muito bem como administrar seus dons, mas que foram um grupo de verdade, como os Titãs, aprendendo juntos como passar para a próxima página. O texto de J.K. Rowling, traduzido para o cinema por Michael Godenberg com mesma precisão que Marv Wolfman fazia nos quadrinhos que eu lia é emocionante.

Harry Potter e a Ordem da Fênix

Diante de um material mais rico, o diretor estreante na série, David Yates, vindo de séries da TV britânica, conseguiu resultados impressionantes. Primeiro, trabalha sem excessos. Na mesma medida em que o filme tem momentos mais dramáticos, em que ressalta laços familiares e, sobretudo, laços de amizade, não há cenas chorosas, muito menos pieguice. A delicadeza é a escolha certeira, como nas flores que emolduram o primeiro beijo de Harry ou nos encontros com a família Weasley.

Yates também é seguramente o melhor diretor de atores de todos os filmes. Além de revitalizar as interpretações de Rupert Grint e Alan Rickman, escanteados em tempo e espaço no longa anterior, aproveita melhor tanto Daniel Radcliffe quanto Emma Watson, ambos muito bem, deixa Gary Oldman num tom certíssimo e nos apresenta duas novas e excelentes aquisições: a primeira é a estreante Evanna Lynch, dona de um olhar incômodo e de algumas das melhores cenas sem ação ao lado de Harry. A segunda é Imelda Staunton, uma vilã genial, neurótica e nervosa. Candidata séria a melhor atriz coadjuvante do ano.

Eu falei de ação, não é? Pois é, assim como nas HQs dos Titãs, ela quase inexiste no filme, que só fica mais ‘animadinho’ na meia hora final. Mas a falta de cenas de ação é recompensada com a excelência e a unidade da direção de Yates, que fez o mais bem decupado dos filmes. Apesar disso, o cineasta sabe dar textura dramática às cenas em que se precisa de esforço físico. A primeira cena é filmada de maneira inédita na série, com sua câmera trêmula. O duelo na sala das profecias também é exemplar nesse sentido.

À medida em que o tempo passava, meu amor pelo filme só fazia aumentar. Gostava de tudo, de todos. Saí de Harry Potter e a Ordem da Fênix exatamente como quando terminava de ler uma revista dos Titãs. Morrendo de vontade de chegar a continuação.

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[Harry Potter and the Order of the Phoenix, David Yates, 2007]

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