Homem de Ferro

A vitória de Homem de Ferro nas bilheterias é uma das melhores notícias do ano porque, sendo o pontapé inicial da Marvel como estúdio de cinema, é bem provável que tenhamos filmes baseados nas HQs da editora ainda mais autorais e arriscados. É uma das grandes surpresas também porque esse projetos mais íntimos geralmente dão resultados meia-boca, vide as incursões do Mark Steven Johnson no Universo Marvel: um Demolidor insípido, com Ben Affleck deixando raso um dos heróis mais complexos dos quadrinhos, e um Motoqueiro Fantasma ruim, com Nicolas Cage pagando mico.

Quando anunciaram Jon Favreau para o comando da primeira aventura de Tony Stark nos cinemas, confesso que não coloquei nenhuma fé. O cara que fez Zathura, um filme simpatiquinho e boboca, conseguiria tomar conta de uma cria de Stan Lee com alguma decência? Imaginei prontamente que surgiria algo como o que Tim Story (antecedente criminal: Taxi) fez com o Quarteto Fantástico: transformou os heróis num grupo de otários em dois filmes fracos de dar dó. Mas as notícias foram, aos poucos, ficando mais interessantes.

A melhor delas foi a escalação do protagonista. Numa época em que pós-adolescentes ganham quase todos os papéis de heróis (até para dar fôlego às futuras continuações), um quarentão seria a cara de Stark no cinema. E o melhor, Robert Downey Jr. é um ator de primeira, que dá contrastes necessários a tudo o que pega pela frente, como em Zodíaco e O Homem Duplo. Aposta de risco que se paga logo na primeira cena, única em que se faz uma citação indireta ao alcoolismo que viria a ser um dos maiores vilões do heróis nos quadrinhos. Assim como Tobey Maguire é o Peter Parker e Hugh Jackman é o Wolverine, Downey Jr. é Tony Stark.

A estrutura é bem clássica: personagens são introduzidos, herói descobre poderes e passa o o filme tentando lidar com eles até o duelo final contra o rival. No entanto, o que é bem didático em Batman Begins, por exemplo, funciona como um acelerador para motivar o espectador aqui. O desenvolvimento do traje assume ares instigantes – como naqueles programas de TV que revelam nossas possibilidades de futuro – e se torna a linha central de Favreau, que soube explorar bem cada fase do roteiro, que é bem linear, mas consegue dar substância aos personagens, com a ajuda dos atores.

O elenco de apoio é um grande acerto: primeiro temos Gwyneth Paltrow, ótima atriz apesar da campanha contra no Brasil, que surge graciosa da primeira à última cena. Terrence Howard reprisa seu talento e sua arrogância, enquanto Jeff Bridges cria um vilão delicioso, explorando a caricatura com poucos sabem fazer sem cair na obviedade. Uma tarefa difícil. Um grande ator num papel bem diferente do que estamos acostumados a ver. Mas este é, sem dúvida, um filme de Robert Downey Jr., sua inteligência e seu sarcasmo. Seu Tony Stark entra para a galeria de grandes traduções de heróis de HQ para o cinema e, mais ainda, é uma das melhores performances do ano.

Eu costumo exagerar com os filmes baseados em quadrinhos. Quando eu gosto deles, sempre termino multiplicando suas qualidades. Quando desgosto, o mesmo acontece com seus defeitos. Com Homem de Ferro, não há o que errar. Saí da sala de cinema com a certeza de que vi um grande filme.

Homem de Ferro Uma estrelaUma estrelaUma estrelaUma estrela
[Iron Man, Jon Favreau, 2008]

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