Invocação do Mal

A maior qualidade que um filme de terror pode ter é sua capacidade de credibilidade. Quando o espectador acredita no que está vendo na tela, quando ele esquece por um segundo que o que está na sua frente é cinema, pode-se dizer que um filme de terror cumpriu sua missão. Por mais que existam outras inúmeras maneiras de se julgar um bom filme, este gênero especificamente trabalha com uma reação imediata da plateia. O filme de espíritos, um dos subgêneros mais nobres e mais maltratados do horror, parece estar se reinventando nos últimos tempos. E um dos maiores responsáveis por isso é um malaio chamado James Wan.

Seu novo filme, Invocação do Mal, parte de um certo oportunismo. Três anos atrás, o cineasta que revitalizou (para o bem e principalmente para o mal) o filme de tortura com a série Jogos Mortais, da qual dirigiu o primeiro e produziu os seis títulos seguintes, entregou um longa chamado Sobrenatural. Autêntico filme de espíritos, de casa mal assombrada, este filme fez um inesperado sucesso de público – rendeu quase U$ 100 milhões mundo afora -, e conquistou muita gente. Aliás, assustou muita gente. Primeiro, com suas insinuações. Depois com seu tratamento sério para o tema.

Três anos depois, Wan retorna a esse universo, cobrindo as poucas lacunas que deixou. No lugar do vilão estilizado do filme anterior, único demérito para a autenticidade daquele longa, o diretor partiu de um episódio real para criar uma história que envolve uma série de subgêneros do terror, como casa mal assombrada, fantasmas, possessão e exorcismo.  O filme conta o caso da família Perron, que, em 1971, se mudou para uma casa em Harrisville, estado de Rhode Island, nos Estados Unidos, e passou a  presenciar manifestações de espíritos pelo lugar. Quando as coisas fugiram ao controle e as 5 filhas do casal começaram a ser assediadas de diversas formas pelas entidades, a família convocou o casal de paranormais Ed e Lorraine Warren.

O fato de trabalhar com personagens reais que tiveram experiências registradas, documentadas, joga o longa de Wan num patamar superior aos filmes do gênero. O diretor sabe disso e trata de, num gesto de marketing bem calculado, dar substância ao material que tem nas mãos, fazendo uma recriação de época detalhada, com cenários bem cuidados e figurinos que reforçam o caráter histórico do longa, reafirmando o clima de “isso realmente aconteceu” ao que o filme se propõe. Wan contratou um elenco de primeira, com destaque para a excelente Vera Farmiga, que vive a sensitiva Lorraine Warren. Patrick Wilson, com quem o cineasta já havia trabalhado em Sobrenatural, e Lili Taylor, ótima atriz que há muito não recebia um papel de destaque num filme “grande”, completam a equipe.

Com esta embalagem, o diretor valorizou o texto escrito pelos gêmeos Chad e Carey Hayes, que encontraram um tom bastante sóbrio para contar a história, estabelecendo gradativamente o clima de terror, primeiro com insinuações, depois com alucinações (ou não?), para finalmente chegar às manifestações. Uma cena emblemática é quando uma das meninas afirma ter um homem em pé ao lado da porta, perto de onde está sua irmã. O espectador, assim como a irmã, não tem certeza do que vê, mas a escuridão atrás da porta combinada com a convicção da garota de que o sujeito está ali cria uma sequência de horror em estado bruto, onde não existe outra opção além de acreditar. A cena da primeira manifestação, que envolve um certo guarda-roupa, cria, por outro lado, um dos maiores sustos do filme.

Ed e Lorraine Warren também estão envolvidos em outro episódio que terminou gerando um livro e um filme de terror, no caso, A Cidade do Horror ou Terror em Amytiville. Para reforçar seus personagens, Wan os retrata como heróis da vida real, profissionais sérios, realmente dedicados a ajudar seus “clientes”. Nunca realmente questiona suas intenções ou seus métodos, nem se eles cobram por seus serviços. Ao mesmo tempo, o filme espertamente traz para dentro de casa o terror vivido por seus heróis em suas aventuras, quando a filha do casal é colocada em perigo por influência dos espíritos que assombram a residência dos Perron. É quando Wan amplia seu filme, lança uma discussão real sobre personagens que se tornam reféns de seus empregos, vítimas de suas escolhas, que colocam em risco sua própria sanidade, algo que, provavelmente, voltará a ser explorado em Invocação do Mal 2, que acaba de ser anunciado.

Invocação do Mal EstrelinhaEstrelinhaEstrelinhaEstrelinha
[The Conjuring, James Wan, 2013]

Veja aqui a lista com dez melhores filmes sobre casas mal assombradas.

Comentários

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7 comentários sobre “Invocação do Mal”

  1. Excelente filme.Muito superior a Sobrenatural,que é um ótimo filme.Felizmente,ainda existe vida inteligente em Hollywood.Vida longa a James Wan.

  2. Esse filme realmente é muito bom e poderia dizer o melhor … eu indico para todo mundo que gosta desse gênero de filme. Que é o meu preferido

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