Mais um Ano

Nem um prêmio em Cannes, nem uma indicação ao Oscar de roteiro original. Nada foi suficiente para que o elogiadíssimo Mais um Ano, filme que Mike Leigh lançou em 2010, conseguisse a sorte de ganhar espaço no circuito comercial brasileiro. Somente quatro anos depois, o longa conseguiu interromper esse boicote, que se estendeu até aos festivais de cinema brasileiros (o Festival do Rio só exibiu o filme em 2012). Uma injustiça com o belo trabalho, de um diretor cujos últimos seis títulos tiveram lançamento no Brasil.

Mais um Ano é uma obra peculiar na filmografia de Mike Leigh. Criador de personagens sempre envoltos numa melancolia que geralmente dá o tom dos filmes, aqui o diretor aposta em um casal solar de protagonistas, que dilui o peso das angústias trazidas pelos coadjuvantes. Esse contraste empresta ao longa a leveza de um romance que deu certo e que dura anos, décadas. É um filme romântico por natureza, onde Leigh exibe mais uma vez sua habilidade no comando do melodrama.

Emboras os elogios tenham caído principalmente no colo da boa Leslie Manville, que interpreta uma mulher com sérios problemas de auto-estima, são os desempenhos de Jim Broadbent e Ruth Sheen, ambos inspiradíssimos, que chamam atenção. Seus personagens oferecem ao espectador uma esperança que diferencia o longa de obras como Segredos e Mentiras e Agora ou Nunca, filmes belíssimos, mas cujo pessimismo é quase determinista. Tom e Gerri, versões light da protagonista de Simplesmente Feliz, estão cercados por gente problemática e vidas caóticas, mas nada parece abalar o casal, cujo principal objetivo parece ser mediar conflitos e oferecer um ombro amigo.

O título do filme os resume bem: um ano a mais em seu casamento sólido, um ano a mais em sua “missão” de ouvir os problemas e administrar as crises alheias. Mas também reflete a própria obra de Leigh, um homem dono de um texto direto e vigoroso, um diretor que, filme após filme, reassume um compromisso com um cinema simples, cheio de personagens complexos e incrivelmente reais.

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[Another Year, Mike Leigh, 2010]

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