Judith Anderson, Joan Fontaine

Rebecca, a Mulher Inesquecível EstrelinhaEstrelinhaEstrelinha
[Rebecca, Alfred Hitchcock, 1940]

Rebecca é um filme visivelmente conflituoso. A chegada de Hitchcock em Hollywood mostra que o diretor teve que adaptar sua marca a do produtor David O. Selznick. Ao filme, falta aquela pitada popular que consagrou Hitchcock. Ela parece disfarçada de novela de época, que deveria ser o que Selznick considerava como arte. Deu certo. O filme ganhou o Oscar, mas parece rebuscado demais, literário demais, o que, de certa maneira, o deixa numa posição interessante na filmografia de Hitch. Joan Fontaine peca pelo excesso, embora tenha cenas memoráveis, mas a performance de ouro neste filme é a de Judith Anderson, impecável, como a mais pura tradução do mal encarnado.

Teresa Wright, Joseph Cotten, Edna May Wonacott, Henry Travers

A Sombra de uma Dúvida EstrelinhaEstrelinhaEstrelinhaEstrelinhaEstrelinha
[Shadow of a Doubt, Alfred Hitchcock, 1943]

Alfred Hitchcock dirigiu poucos filmes tão perfeitos quanto A Sombra de uma Dúvida. A transição entre o peso da trama dramática e as dezenas de contrapontos cômicos é tão sutil quanto adequada. Hitchcock gasta um tempo importante desenvolvendo cada um dos personagens da família Newton, dedicando carinho especial para a pequena Ann de Edna May Wonacott, dona da interpretação adorável de uma nerd em gestação. Joseph Cotten e Teresa Wright estão em seus momentos mais inspirados. Cotten acerta em cada expressão. Passa do perverso para o adorável em segundos. Hitchcock constrói seu suspense de uma maneira quase maquiavélica. Desde o começo sabemos que se trata de um homem mau próximo a uma família boa. Não há o que descobrir, o que revelar. A tensão surge dessa convivência. E é o clima é claustrofóbico o tempo inteiro.

Ingrid Bergman, Cary Grant, Alfred Hitchcock

Interlúdio EstrelinhaEstrelinhaEstrelinhaEstrelinhaEstrelinha
[Notorious, Alfred Hitchcock, 1946]

Uma das melhores cenas de mistério dirigidas por Hitchcock está neste filme maravilhoso. O diretor precisa de uma chave e do rosto atormentado de Ingrid Bergman para criar suspense em seu estado puro. A seqüência é eletrizante e, ao mesmo tempo, parece minúscula demais. Prova de que o diretor pode emprestar potencial cinematográfico a qualquer coisa. E Interlúdio é um de seus filmes mais lindos. Porque, no fundo, é uma história de amor grandiosa. Outra seqüência que impressiona é a do beijo interminável entre Ingrid Bergman e Cary Grant, que não se separam nem para atender o telefone. Apesar disso, o beijo tem várias interrupções por causa do limite de três segundos por beijo imposto pelo Código Hays, a censura da época. Ingrid está luminosa, uma de suas melhores interpretações, prova de que elas estava anos-luz da maioria das atrizes de sua época. Há um contraponto que Hitchcock aproveita muito bem: enquanto Ingrid é uma ‘rebelde’ recuperada, Grant, mesmo apaixonado, se finge de indiferente o filme inteiro. Isso isola a personagem de Ingrid e aumenta o suspense. O final de Interlúdio é uma porrada.

Comentários

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4 comentários sobre “Mostra Hitchcock – parte dois”

  1. Olá, adorei suas críticas.
    Diretas, sinceras, sintéticas, certeiras e bem escritas.
    Mesmo quando suas leituras se diferem drasticamente das minhas, ainda assim vejo em suas críticas muito mais do que um conhecedor do cinema, mas uma pessoa que escreve com paixão pela sétima arte, um cronista de verdade!

    Parabéns…
    Se tiveres tempo visita meu blog http://alfredowerney.blogspot.com.br/

  2. Coincidentemente, vi Interlúdio hoje e fiquei impressionadíssimo, não imaginei que justo esse filme do Hitch seria tão bom. Bergman e Grant sensacionais em seus papéis, e uma fotografia lida demais! De fato, um dos melhoers filmes dele. Quanto a Sombra de uma Dúvida, é um filme que eu gosto, mas não tanto assim. Já Rebecca acho sensacional pela atmosfera de opressão e por manter até os minutos finais o segredo do filme.

  3. Ainda não fui ver ou rever nenhum. Quero ver se consigo pegar “A Sombra de uma Dúvida” ainda. Nunca vi. 😉

    Qual o seu favorito dele, dentre todos? O meu é clichê: “Vertigo”.

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