O Território, de Aron Gauder.

Divertidíssimo, com um humor bastante em voga, unindo sarcasmo e crítica política, com público-alvo inegável: o adolescente. A história é bem boba, mas há dezenas de cenas engraçadíssimas. Sim, parece South Park. Aliás, parece mais Terrance and Phillipe. A técnica de animação (perdoem-me por ser completamente leigo nisso) é deliciosa, bastante diferente dos filmes feitos do outro lado do oceano.

Palindromes, de Todd Solondz.

Todd Solondz tinha meu apreço. Bem-Vindo à Casa de Bonecas (1996), filme sobre os estranhos e os espaços que eles encontram pelo mundo, era um belo ensaio do que vinha por aí. E eu realmente gosto de Felicidade (1998), que traz o incômodo à superfície embora muitas vezes se recorra à armadilha do choque. Histórias Proibidas (2001) tenta fazer o mesmo e tem algum sucesso nisso, mas em escala bem menor. O novo longa do diretor é uma surpresa. Uma péssima surpresa. Palindromes é uma ode ao bizarro, um elogio à diferença. Solondz, ansiosíssimo por acintar mais uma vez a América, cometeu o filme mais repulsivo dos últimos tempos. Um filme que se ergue sobre o quão patético consegue tornar tudo a sua volta. Que se baseia no ridículo para convencer a platéia pelo riso, pela gargalhada, pelo escárnio. E a platéia de ontem do Cineclube Vitrine 1 (ou pelo menos, enorme parte dela) estava muito disposta a rir de tudo, desde a moça extremamente gorda e o coral de deficientes físicos até até o sexo com crianças. O riso era tão descontrolado que até em cenas de corte (como um carro passando por uma rodovia) era momento para alguma manifestação. A história da menina Aviva, que Solondz se dispôs a contar, deveria mostrar que tudo é igual e que nada muda (o tal palíndromo do título, a palavra que lida de trás pra frente tem a mesma grafia), mas só fez ressaltar a diferença pelo grotesco.

P.S.: depois de quase mais de dois anos e meio de contato pelos blogues, finalmente conheci hoje pessoalmente o Daniel Libarino, do The Bridge, num encontro bem por acaso que se transformou numa conversa rápida e que eu espero que seja repetida até antes de eu voltar para casa.

Comentários

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10 comentários sobre “Mostra SP 2005: dia 6”

  1. odeio mortalmente solondz, provavelmente um dos cineastas que mais odeio, e nao vejo esse filme de jeito nenhum. quer dizer, talvez até veja.

  2. Tiago, na boa, já que tu me chamou de intolerante, quero deixar claro que: 1- eu, em nenhum momento, disse que a INTOLERÂNCIA é um problema dele. Realmente não o acho exatamente intolerante. 2- Com exceção de Palíndromos, vi todos os filmes dele e ainda verei outros, sempre disposto a ver e rever meus conceitos sobre o cara. Sinceramente, não me achei intolerante, apenas tenho uma opinião sobre esse cineasta (do qual já vi boa parte do trabalho) que não é das melhores. Gosto de um filme dele (como falei) e da primeira parte de Storytelling. Se ofendi alguém, me desculpe. Antes Solondz do que mal acompanhado, não é mesmo?

  3. Tiago, esse argumento da provocação não me convence. Fazer piadinha enquanto um cara de 35 anos faz sexo com uma menina de 11 ou 12 para deixar a cena engraçada e culpar o público pela reação realmente não é o que chamaria de cinema de provocação. Até acredito que Solondz possa ter justamente essa intenção, mas acho que ele cai na própria armadilha.

  4. Ah, e a idéia do filme não é “mostrar que tudo é igual e nada muda” (isso é a visão de um personagem do filme, nada mais). Na verdade, o título tem a ver com a parte de toda pessoa que, na visão do diretor, permanece imutável mesmo depois de todos os baques da vida (ou, no caso, depois até da mudança física que é quando a personagem “salta” de ator em ator).

    Bom deixar isso claro, já que é um ótimo motivo pra atacarem o cara e dizerem que ele é um determinista etc. Nada a ver.

  5. Chico, eu acho que esse problema que vc apontou está mais no público do Palindromes que no filme.

    E, no caso, o diretor realmente fez um filme de provocação, em que ele joga todas essas questões para o público (a grande sacada do filme é meio que estudar a forma como a presença de um ou outro ator influencia na compreensão de um mesmo personagem).

    Eu entrevistei o Solondz logo depois de ver o filme e ele disse que não se incomoda ao ver que metade do cinema ri do filme e a outra metade reclama de quem riu. É um filme que lida com essa experiência de recepção mesmo, e acho que ele é muito bem sucedido nisso (uma prova é essa sua reação ao filme, muito indignada). O Solondz está mais radical a cada filme, mas não consigo encontrar indícios de que ele compartilhe a visão preconceituosa do público que ri do grotesco. Ele encara o grotesco, o que é diferente. Eu sei que “Palindromes” vai receber dezenas de críticas furiosas desse estilo, mas não vejo esse tipo de sensacionalismo no filme não.

  6. O únco filme bom, ou que talvez tenha me enganado, do Solondz é o Bem-Vindo à Casa de Bonecas. Concordo com quase tudo que o Chico disse, as mesmo Felicidade eu já acho bem fraco. Várias pessoas que achavam Quem Vai Ficar com Mary? um filme idiota acharam genial a cena da porra e do cachorro em Felicidade. É praticamente a mesma piada no filme dos Farrely, só que melhor filmada/contada. Solondz: é desse tipo de radical o cinema independente americano (o inferno?) está cheio. Por favor.

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