Wim Wenders

Palermo Shooting EstrelinhaEstrelinha, de Wim Wenders

O novo filme de Wim Wenders explica um pouco do corte de cabelo do alemão, que estava atrás de mim outro dia quando eu comprava uma empanada. Brincadeiras à parte, em Palermo Shooting, Wenders se arrisca num campo quase onírico, emulando de certa forma David Lynch, com personagens macabros aparecendo de relance e até com o fantasma de Lou Reed passando um recado. Como Wenders não domina muito bem esse campo, o filme chega a ser constrangedor em alguns momentos, embora não seja totalmente de se jogar fora. A perturbação do protagonista, que deveria abalizar o mergulho no fantástico/místico que domina o filme, nunca encontra uma boa justificativa, o que enfraquece ainda mais o conjunto. E tem músicas demais. Umas 30.

Miguel Gomes

Aquele Querido Mês de Agosto EstrelinhaEstrelinhaEstrelinhaEstrelinha, de Miguel Gomes

Duvido que apareça um filme mais original na Mostra. O misto de documentário e ficção apresenta uma vila em Portugal com seqüências que lembram um filme de Eduardo Coutinho, inclusive ao se revelar o processo por trás seja do documentário, seja do filme de ficção. A primeira parte, com ênfase na coleta de personagens, é genial. A transição para o que deveria ser o filme em si, a historinha, mantém a graça, mas perde um pouco em ritmo (como no Wenders há um excesso no uso de músicas embora o filme retrate uma banda). Mas a resolução recupera o frescor original e o filme fecha com um inteligente e bem humorado momento de DR entre a equipe de filmagem. Realmente, um filme único.

Woody Allen

Vicky Cristina Barcelona EstrelinhaEstrelinhaEstrelinha, de Woody Allen

Dá para falar muitas coisas deste filme, mas a sensação geral é de que se trata de um trabalho simpático, feliz e menor de um diretor grande. Woody Allen parece que ficou meio embasbacado com a Espanha e faz meio que uma reverência ao país, ensolarando seu filme, uma comédia dramática simples e gostosinha de se assistir. Vicky Cristina Barcelona mora entre a seriedade de Ponto Final e o escracho de Scoop. Allen peca um pouco na elaboração dos personagens, arquetípicos (o artista, a rebelde, a patricinha, a insana), e termina se escorando nos atores, com destaque para Penélope Cruz, ainda que não seja uma performance brilhante. De resto, a sensãção é de que o clima de “tudo se acerta” prevalece e que Allen só quis ser feliz durante as filmagens. Alguém o culpa?

Olivier Assayas

Horas de Verão EstrelinhaEstrelinhaEstrelinha, de Olivier Assayas

Quando Demonlover e Clean pareciam definir o cinema de Olivier Assayas, ele chega com Horas de Verão, que o faz passear por outras searas. A divisão de uma herança serve para o diretor nos privar de sua câmera que buscava a imensidão em troca de uma imagem mais convencional. Seu novo filme é exatamente isso: um um trabalho mais clássico, onde a forma e o desenvolvimento dos personagens parecem muito próximos do cinema francês dos últimos vinte anos do que dos outros filmes do cineasta. Se a mudança na embalagem parece brusca, a direção de Assayas continua precisa. Charles Berling, num elenco que conta com Juliette Binoche e Jérémie Renier, ganha destaque ao personificar a nostalgia de tempos que não voltam mais.

Matt Oggens

Confissões de Super-Heróis EstrelinhaEstrelinhaEstrelinha, de Matt Ogens

Um ingresso comprado pelo título que revelou um filme precioso. Enquanto documentário, o filme não se arrisca muito, nos apresentando em goles pequenos cada um de seus quatro personagens. A questão é que esses personagens são verdadeiros achados, pessoas que se vestem de heróis de quadrinhos nas ruas de Hollywood para tirar fotos com turistas em troca de alguns trocados. Um Superman que inventa uma mãe famosa, um Hulk que foi sem-teto, uma Mulher-Maravilha ex-cheerleader e um Batman que diz que “deixou um rastro de corpos por aí”. Matt Ogens nos oferece essas histórias aos poucos, tornando os personagens cada vez mais falhos e deliciosos. Uma bela surpresa.

Comentários

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3 comentários sobre “Mostra SP 2008: boletim 4”

  1. Gostei de HORAS DE VERÃO, mas achei longo demais. Quero dizer, encerraria o filme com a cena do vaso no museu, sem toda aquele panorama da Festa de adolescentes.

    Estou aborrecido de não ter conseguido encaixar AQUELE QUERIDO MÊS DE AGOSTO na minha programação. FIco na torcida pela repescagem… É o filme de Portugal para o OScar e, sinceramente, acho que tem mais chances que ULTIMA PARADA 174

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