Marília Rocha

Acácio EstrelinhaEstrelinha, de Marília Rocha

Eu sigo um princípio sobre filmes documentais. Toda e qualquer construção formal ou licença poética é permitida caso se cumpra a função primordial de um exemplar do gênero: coletar informações sobre o que está sendo documentado. No caso de Acácio, o alvo é um velhinho português que viveu em Angola por cerca de trinta anos. A diretora Marília Rocha tem boas idéias, sempre evitando cair na fórmula mais básica de documentários, jogando a câmera nos lugares menos esperados. Mas, depois de algum tempo de filme, esse mecanismo deixa de ser criativo e passa a parecer puro exibicionismo. Se o objetivo deste filme era documentar a vida de seu Acácio, ele não foi cumprido. Há pinceladas de história, mas a preocupação maior parece ser dar uma embalagem poética/intelectual ao material. É um filme para o umbigo, que oferece um cardápio ao espectador, mas não entrega a refeição completa. Eu saí do filme sem saber direito quem foi e o que fez o seu Acácio.

Antonio Campos

Depois da Escola EstrelinhaEstrelinhaEstrelinhaEstrelinha, de Antonio Campos

Parece que dar forma a angústia adolescente virou uma obsessão no cinema norte-americano recente. Poucos filmes conseguem dar alguma contribuição para o estabelcimento de um olhar mais aprofundado sobre o jovem atual. Um deles é Depois da Escola, do estreante Antonio Campos, nova-iorquino filho do jornalista brasileiro Lucas Mendes. O cineasta novato surpreende com uma visão madura e nada determinista da condição teen, centrando foco na imobilidade e na fúria silenciosa do protagonista (o ótimo Ezra Miller). O personagem, ainda que de uma forma específica, representa uma geração empacada (seja no culto ao fútil e aos músculos, seja pelas drogas ou pela internet, seja na busca cada vez mais fácil pelo sexo). Campos acerta em não tentar desenvolver todos estes temas, elegendo alguns que valem pelo conjunto e acerta de novo no uso da câmera e na montagem, ambas passíveis de comparações, mas ambas muito bem executadas. A harmonia só é abalada em um ou outro momento, justamente quando ele tenta ser mais explícito sobre sua preocupação com o jovem de hoje. Não precisava. Tudo o que o filme nos tinha apresentado até ali era não uma visão exatamente original, mas um olhar sério, inteligente e até mesmo carinhoso sobre um momento-chave na vida do homem.

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2 comentários sobre “Mostra SP 2008: boletim 5”

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