Lições de Harmonia

Lições de Harmonia EstrelinhaEstrelinhaEstrelinhaEstrelinha
[Uroki Garmonii, Emir Baigazin, 2013]

As primeiras cenas de Lições de Harmonia pareciam indicar que dali viria mais um exemplar do cinema étnico que brota fácil nas terras das antigas repúblicas soviéticas e dos países da Ásia Central. No entanto, o longa de estreia de Emir Baigazin dribla tantos os lugares comuns quanto as expectativas de filmes que têm sotaque. O cineasta realiza um drama escolar que parte de particularidades locais para trazer questões universais, voltando invariavelmente a refletir as características de sua sociedade original. Baigazin começa como um John Hughes cazaque, desenhando personagens complexos, que lidam com seus dramas pessoais ao mesmo tempo em que se debatem com os conflitos naturais da vida de estudante, agravados por uma intervenção cada vez maior de gangues dentro das escolas do país.

O diretor não teria filme se não tivesse conseguido encontrar três atores tão dedicados, como os garotos que vivem Aslan, Mirsayn e Bolat (este último, o vilão do filme, constrói perfeitamente um gângster em formação, do timing de cada fala à maneira como se movimenta – se estivesse em Hollywood, poderia fazer carreira). A delicadeza com que o diretor constrói o terreno para apresentar cada personagem se combina com o rigor estético de criar imagens não apenas bonitas, mas que emolduram e servem de apoio à narrativa. Delicadeza e rigor que encaminham o espectador para a meia hora final em que as aulas sobre a teoria da evolução que aparecem nas entrelinhas da trama principal ditam novas regras, novos rumos e novas perspectivas sobre os protagonistas. Baizagin pode passar do ponto aqui e ali, mas sua disciplina, sua métrica e, principalmente, sua dedicação para compreender seus personagens são admiráveis.

Manakamana

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[Manakamana, Stephanie Spray & Pacho Velez, 2013]

A deusa hindu Bhagwati atende os desejos dos peregrinos que vão visitá-la em seu templo escondido nas montanhas do Nepal. Pessoas com as mais variadas origens que representam as mais variadas camadas da população do país. Milhares de fiéis que, ano a ano, repetem o mesmo ritual: atravessam vales e montes num pequeno teleférico para prestar suas homenagens e pedir suas bençãos. O templo de Bhagwati é o Manakamana que batiza o filme de Stephanie Spray & Pacho Velez. Os diretores reproduzem essa rotina circular dos nepaleses acompanhando as idas e vindas dos devotos da deusa, guardando o mistério de sua imagem e de sua morada. cada vez que o bondinho sai, o filme nos presenteia com a surpresa do próximo protagonista. Muitas vezes são dez minutos de silêncio que nos levam à meditação: o que leva aquelas pessoas a percorrer aquele caminho? De onde elas vêm e para onde elas vão? Cada viagem nos revela uma face do povo do Nepal. Um motivo. Uma possibilidade. A deusa abençoa aqueles que vão, aqueles que voltam, e a gente acompanha aqueles peregrinos, sempre enclausurados num mesmo plano, sempre dispostos a buscar aquela benção.

Lukas, o Estranho

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[Lukas Nino, John Torres, 2013]

Se o cinema vive buscando novos formatos, Lukas, o Estranho parece ser a forma mais descompromissada de encontrá-lo. A bagunça que John Torres promove em sua obra mais recente tem o frescor de um cineasta à procura de uma linguagem própria e a leveza de um trabalho que não se preocupa em oferecer conceitos fechados ou mesmo sólidos. O filipino faz sua “revolução” na forma de filme caseiro, algo parecido com os Super-8 experimental, em que um fiapo de história encontra um quase-formato de cinema silencioso em que há um filme dentro do filme e os atores são pessoas da vizinhança. A simplicidade com que apresenta suas experiências malucas tem mais vitalidade do que cinemas mais, digamos, sérios. Lukas, Wang Basilio e Melanie Moran ficarão imortalizados na efemeridade da brincadeira deste filipino.

Veja também: minha cobertura para a Mostra.

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