As Bruxas de Zugarramurdi

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[Las Brujas de Zugarramurdi, Álex de la Iglesia, 2013]

Hugo Silva, o copiloto bonitão do último filme de Almodóvar, é protagonista de mais este delírio delicioso do espanhol Álex de la Iglesia, um dos autores mais coerentes do cinema espanhol. Desde o começo da carreira, o cineasta elege o fantástico como tema de todos os seus filmes, geralmente comédias que não têm pudor com o escracho. Em As Bruxas de Zugarramurdi, coloca dois homens e um garoto que acabaram de assaltar um banco diante de uma família de feiticeiras, radicadas na cidade que dá título ao filme, um local cujo paganismo levou muitas mulheres à figueira na Idade Média. De la Iglesia acerta em cheio ao combinar ritmo acelerado, humor afiado e efeitos visuais excelentes com o respeito às histórias de terror, o que dá ao filme um quê algo sério no meio de todas as ironias. O elenco é ótimo, com destaque para Carmen Maura e, especialmente, Terele Pávez, premiada com o Goya de coadjuvante.

Foxcatcher

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[Foxcatcher, Bennett Miller, 2104]

Embora haja méritos óbvios em Foxcatcher, o sentimento em relação ao filme pode ser bastante controverso. De um lado é possível reconhecer um esforço gigantesco do Bennett Miller em tornar tudo muito importante. Há um tom inato de épico intimista a essa “história real” desde a direção de atores até a utilização da trilha sonora. Do outro, esse esforço parece realmente ter capturado um sentimento de estranhamento, como se fosse o filme realmente se assumisse como prelúdio de uma tragédia. Miller acerta ao materializar o vazio nas vidas dos dois personagens principais, que encontraram intérpretes inspirados. Steve Carrell usa uma maquiagem perfeita e, embora ronde a caricatura, geralmente escapa ileso e ofereça uma melancolia dolorida. Channing Tatum, que vem se revelando bom ator, foge do esteréotipo do atleta arredio com um personagem que não cabe em si mesmo. Mark Ruffalo, com seu jeito manso de falar, completa o elenco, dando corpo a um bom coadjuvante.

Relatos Selvagens

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[Relatos Salvajes, Damián Szifrón, 2014]

A maior parte da carreira de Damián Szifrón foi como roteirista de TV e parece ter sido justamente da televisão que ele tirou a agilidade e a comédia popular de Relatos Selvagens. O filme em episódios, que abre a Mostra deste ano, no entanto, não recorre ao humor grosseiro comumente visto em programas televisivos brasileiros que inspiraram muitas comédias lançadas no país nos últimos anos. O cineasta argentino mantém um diálogo próximo com o espectador principalmente quando parece sacanear estereótipos, trollando fórmulas. Aqui, os episódios se transformam em contos ácidos de humor negro sobre tolerância e os melhores entre eles são aqueles que trabalham brincando com formatos conhecidos, como o do avião, uma aliteração deliciosa de um esquete televisivo caricato, ou o dos motoristas na estrada, um versão sarcástica e em carne-e-osso de um duelo de desenho animado. Esqueçam Ricardo Darín, o episódio dele é um dos mais bobos. Embora tenhas altos e baixos, o filme oferece uma saída diferente para quem aprecia uma boa comédia latina.

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