Ninguém Pode Saber

Entender um adulto deve ser algo muito complicado para uma criança. Faltam referências, experiência, falta história. No novo filme do japonês Hirokazu Kore-eda, o jovem Akira é jogado numa situação sem saída: cuidar de três irmãos menores é um desafio gigantesco, ainda mais para quem nem chegou à adolescência. Mesmo refém de uma vida transitória, cheia de mudanças, inconstâncias, personagens provisórios, mesmo acostumado a uma mãe para quem nada é muito certo, Akira não entende porque sua mãe foi embora. E o deixou ali, com um problema daqueles.

Mais difícil do que uma criança entender um adulto é um adulto entender uma criança. Porque á medida que o tempo passa, que a idade aumenta, a memória some, a visão de mundo ganha proporções diferentes. É difícil pensar como se pensava antes. Hirokazu Kore-eda se esforça. Não consegue. Mas chega muito próximo de se colocar no lugar de seus pequenos personagens. Akira, que além de cuidar, precisa esconder seus irmãos de um condomínio que não aceita famílias grandes. Então, Akira carrega sua família inteira dentro de si.

É por ela que ele vai ao mercado, que inventa presentes de Natal, que leva a irmãzinha aniversariante para esperar a mãe que nunca vem.

Kore-eda, justamente pelo grau de distanciamento que mantém, evitando as armadilhas fáceis, consegue um apuro na direção invejável: faz um filme duro e extremamente triste, mas livre de cenas apelativas perfeitamente cabíveis dentro do enredo do longa-metragem. Seu filme-denúncia denuncia sem explosão. É a rotina do abandono que provoca reações. É a falta de eventos que incomoda. É não ter um ator-mirim-gênio (tipo Haley Joel Osment ou Keisha Castle-Hughes) que mostra que aquilo ali está mais perto do possível. A performance de Yugi Yagira – nunca espetacular – fria, triste, solitária, é o que mais corta o coração.

Ninguém Pode Saber EstrelinhaEstrelinhaEstrelinha½
[Dare mo shiranai, Hirokazu Kore-eda, 2004]

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