O Gosto do Dinheiro

O coreano Im Sang-soo gosta de tomar liberdades. Ele mesmo afirma que o protagonista de O Gosto do Dinheiro, seu novo filme não tem espaço na vida real. Segundo o cineasta, no mundo do poder, a possibilidade de dizer ‘não’ inexiste, mas ele guarda para si o direito de criar um personagem cujos princípios reconhece e preza. Um personagem que parece perdido nos dias de hoje.

A confissão do diretor explica um pouco do tom do filme, uma visão quase caricatural sobre os bastidores do mundo corporativo. Um recorte que mora no universo limítrofe entre drama e comédia, um universo tipicamente coreano. Situando o filme neste cenário, onde o tema é verossímil, mas os personagens se movimentam como numa realidade cartunesca, Sang-soo cria um contraste que joga o longa num plano suspenso, distante, mas possível.

O filme apresenta o espectador a Joo Young-Jak, uma espécie de secretário particular de uma família poderosa, envolvida um negócios escusos. À medida em que suas responsabilidades crescem, ele começa a questionar a ética de seu trabalho, o que o confronta com os interesses da família que paga seu salário.

De um maneira sutil, o diretor indica que este novo filme é uma espécie de continuação (ou um prolongamento) de A Empregada, remake de um longa coreano da década de 1960, realizado pelo cineasta há dois anos. Uma relação curiosa já que Sang-soo afirmou que não tomou a decisão de fazer a adaptação, mas foi convencido por seu produtor. Um trabalho sob encomenda que, de uma forma ou de outra, cria um paralelo entre o próprio diretor e o protagonista deste novo filme. Os dois parecem partilhar da mesma crise.

De A Empregada, que tem cenas exibidas ao longo de O Gosto do Dinheiro, o filme herdou não apenas a temática, mas o cenário – a mansão onde se passa a ação – e a ótima atriz Yeo-Jung Yoon, peça fundamental à trama do novo filme. Com uma performance cheia de maneirismos, mas com muita sutileza, ela interpreta a matriarca da família, maior vilã do longa, algoz do personagem principal e dona de algumas das melhores cenas.

O espectador ocidental pode ficar desconcertado com o universo de O Gosto do Dinheiro porque Sang-soo utiliza um mecanismo muito caro ao cinema coreano de combinar excessos dramáticos e humor negro, sem que isso signifique menosprezar a trama ou os personagens. É um terreno pantanoso que pode ser confundido com falta de profundidade ou com o novelão puro e simples, mas que esconde uma mise-en-scène complexa e de equilíbrio mais difícil.

O Gosto do Dinheiro EstrelinhaEstrelinhaEstrelinha½
[Do-nui Mat, Im Sang-soo, 2012]

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