Lázaro Ramos, Leandra Leal

Fazer graça em filme sério não é pra todo mundo. Jorge Furtado é um homem inteligente. Salvou a TV brasileira do marasmo das telenovelas e, em quase tudo que faz, consegue bons resultados. Um dos melhores é Ilhas das Flores, curta-metragem de 1992 que figura entre os melhores já feitos no Brasil. O filme inaugura uma linguagem de edição que virou marca do diretor: a do uma-coisa-leva-a-outra.

A estréia de Furtado nos longas, Houve Uma Vez Dois Verões (02), é um filme pequeno, simples e despretensioso, que, com delicadeza e inteligência, supera qualquer história sobre adolescentes apaixonados.

O Homem que Copiava, novo trabalho do cineasta, segue o mesmo estilo de suas outras obras. Linguagem pop e muita informação. O filme conta a história de André (Lázaro Ramos), um operador de xerox solitário apaixonado pela vizinha da frente, preso numa rotina que envolve o chefe desconfiado, a colega gostosona, o amigo marginal e a mãe que nunca fala. André constrói sua história através de fragmentos. Como constrói na sua mente o quarto de sua amada, que vê apenas por uma fresta na janela. O pouco que sabe do mundo são os pedaços de coisas que lê quando está na fotocopiadora.

O filme de Jorge Furtado começa simpático e preso a uma fórmula eficiente que começa a se gastar. Mas muda aos poucos. Furtado sabe como apaixonar. Ele envolve os espectadores com uma história simples e com uma maneira simples de contar uma história. Invade os personagens, sobretudo o protagonista, navegando por seus sonhos solitários, suas tímidas perspectivas e seus passos atrapalhados. Passa de comédia inteligente a filme inteligente. Trafega com facilidade pelo humor e pelo drama. Faz isso sem sentir. Naturalmente. André e sua namorada, mais que um amor, querem liberdade. Criar asas. Buscar algo mais. Que não está ali. Que não dá para definir. Que não se explica. Que talvez nem exista.

Talvez seja por isso que O Homem que Copiava seja tão significativo. À primeira vista, ele é uma comédia bobinha, que conta historinhas bobinhas. Mas basta virar a página para perceber um filme bonito e simples. Sobre a busca que cada pessoa faz de si próprio. Coisas que a gente não consegue explicar, mas que estão ali o tempo todo.

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[O Homem que Copiava, Jorge Furtado, 2003]

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