Colin Farrell, Kate Beckinsale, Jessica Biel, Bryan Cranston

A combinação era irresistível: um conto de Philip K. Dick, um diretor do porte de Paul Verhoeven e um astro do cinema de ação como Arnold Schwarzenegger. O Vingador do Futuro já nasceu clássico, com sua ideia sobre um tempo em que não se pode confiar nas próprias memórias. A ideia de refilmá-lo 22 anos depois parecia esdrúxula, ainda mais quando a assinatura seria de um cineasta como Len Wiseman, cujo ponto alto da carreira foi ter casado com Kate Beckinsale, a estrela da série Anjos da Noite, que ele concebeu e cujos dois primeiros capítulos, dirigiu.

Em tempos de Avenida Brasil e da antológica Carminha de Adriana Esteves, a vilã Lori, vivida por Beckinsale, é o melhor e o pior da releitura do filme de Verhoeven. O melhor porque é uma personagem caricata, histriônica, dona de expressões faciais improváveis, movida por um desejo de matar quase cartunesco, que poderia facilmente estrelar a novela das 9. O pior porque o divertido excesso na performance da atriz raramente combina com o tom morno, quase tímido, do filme do marido.

Wiseman não fez um trabalho ruim. Pelo contrário, o filme não agride ninguém: nem os fãs do original, nem os seguidores de K. Dick, nem o espectador cativo de ficções-científicas. Algumas da reinterpretações do longa original são bem interessantes, como a “locação”, que manda Marte pro espaço, e a famosa cena em que se revela o disfarce do protagonista em fuga. Mas o diretor preferiu não arriscar: o filme todo mora numa zona de conforto entre o respeito ao que Verhoeven fez e a possibilidade de criar em cima. Criar só um pouquinho pra ninguém reclamar.

Colin Farrell é um ator dez vezes melhor do que Schwarzenegger, mas o que pode ser mais divertido do que ver aquele brutamontes tentando interpretar um homem comum? O que falta ao material é o charme que sobrava no original. Um perfume de filme B que a direção pasteurizada de Wiseman fica devendo. O acabamento desse filme destrói a espontaneidade de uma época em que se desafiava os limites da tecnologia para se fazer uma boa ficção-científica. Uma época em que o talento de um autor se sobressaía. É por isso que Beckinsale, completamente desregrada em sua versão anabolizada da personagem interpretada por Sharon Stone no filme de 1990, impressiona. É como se a esposa do diretor dissesse: “peraí que eu vou deixar esse negócio mais legal”.

O Vingador do Futuro  EstrelinhaEstrelinha½
[Total Recall, Len Wiseman, 2012]

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2 comentários sobre “O Vingador do Futuro”

  1. Não sei se o filme atual queria mesmo esse perfume do filme B, tudo que ele não é. Seria uma forma de tentar reprisar algo que o Verhoeven fez tão bem. Gosto da pancadaria e parafernália futurista desse aqui, são boas doses de ação. Beckinsale fazendo cara de má é irresistível.

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