O Voo

A sequência da queda do avião é o ponto alto de O Voo e uma das melhores do cinema de ação recente. Robert Zemeckis demonstra estar em forma, mesmo depois de 12 anos afastado da direção de um filme em live action. A cena é longa, mas administrada com absoluto controle da tensão, escrita com uma riqueza de detalhes impressionante e dando espaço para que os personagens se desenvolvam. Parece saída de um daqueles longas de ação sem limites de Tony Scott, mas com um poder dramático que credibiliza os momentos mais fantasiosos do roteiro e convence o espectador.

O trabalho de Denzel Washington só reforça essa impressão. O ator sabe traduzir a questão central do filme: um piloto de avião viciado em álcool e drogas consegue pousar um avião descontrolado. Seu personagem é herói ou vilão? Washington transita entre as duas perspectivas com habilidade. O longa é todo estruturado para forçar este debate, desde a abertura até o envolvimento do protagonista com uma belíssima Kelly Reilly, que é seu espelho e contraponto.

O texto do filme, indicado ao Oscar, tem alguns momentos brilhantes. Um dos melhores momentos é o da conversa ao pé da escada, com participação especial de James Badge Dale, como um paciente de câncer terminal, mas passeia por umas obviedades incômodas, como tudo o que envolve o personagem de John Goodman. A “desculpa” para o drink final é a mais tosca possível. O roteiro, então, muda gradativamente de enfoque e a discussão sobre o vício, que começa sóbria, se afasta do conto moral para ganhar contornos cada vez mais moralistas. Tudo culmina num final constrangedor, que quase coloca todos esses méritos a perder.

O Voo EstrelinhaEstrelinha½
[Flight, Robert Zemeckis, 2012]

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