Birdman

O Producers Guild of America, o prestigiado sindicato dos produtores, jogou um balde de água fria na candidatura de Boyhood à categoria principal do Oscar, quando escolheu, na noite passada, Birdman como o melhor filme do ano. O prêmio do PGA serve como prévia para o da Academia e pode refletir um pensamento que parecia adormecido em Hollywood, o de que o filme de Richard Linklater é muito bom, mas não para ganhar o Oscar. O grande dilema deste ano é se os membros da Academia vão endossar a jornada indie de 12 anos de Boyhood ou se, como fizeram nos anos em que Fargo e A Rede Social eram os darlings do críticos, irão buscar seu escolhido em outra freguesia. O filme de Alejandro Gonzalez Iñarritu é apenas uma opção.

Linklater é um diretor independente, seus projetos são pessoais, mas ele já foi indicado duas vezes ao Oscar, o que o coloca no radar da Academia. Ou seja, na visão dos integrantes da Academia, ele não é apenas um cineasta indie, mas um indie que já tem entrada no “primeiro time”. E a temporada de prêmios fez muito bem a Boyhood, que ganhou o Globo de Ouro, o Critics Choice, e o prêmio principal de associações de críticos importantes, como as de Nova York, Los Angeles, Boston e Chicago. Linklater e seu filme pareciam embasados, credenciados, abalizados pela temporada para entrar nesse mundinho do Oscar. E quando as indicações saíram, o filme parecia bem forte: seis menções (filme, direção, roteiro, montagem e os dois coadjuvantes). Não foi o mais indicado, mas entrou em todas as categorias que podia.

Mas a temporada de prêmios, que cada vez mais é uma força viva, adora parir alternativas mais convencionais para aqueles votantes que geralmente não se convencem com esses filmes moderninhos. Harvey Weinstein adora preencher essas lacunas. Foi ele que colocou O Paciente Inglês para bater os irmãos Coen e que bancou O Discurso do Rei, que nocauteou David Fincher e a história do Facebook. O homem provou ser poderoso mesmo quando tirou o segundo Oscar de melhor filme de Steven Spielberg (O Resgate do Soldado Ryan) para entregá-lo a uma produção discreta, Shakespeare Apaixonado. Este ano, ele parecia oferecer a opção mais forte para quem rejeitasse Boyhood, mas O Jogo da Imitação, embora seja inglês, tenha astros em ascensão e se passe na Segunda Guerra, ainda não disse a que veio. O PGA pode ter dado a terceira via.

Boyhood

Birdman, que empatou com O Grande Hotel Budapeste, como o filme com maior número de indicações neste ano (dez), teve grande apoio da crítica, ganhou vários prêmios, mas ninguém apostava muito nele para ganhar o Oscar. Essa credencial do PGA pode fazer o filme bater as asas até o palco do Fuji Theater, mas ainda há dois capítulos importantes a cumprir: o prêmio do Screen Actors Guild e o do Directors Guild of America, o mais influente de todos. Há quem diga que o prêmio de elenco no SAG possa indica o favorito ao Oscar, mas isso é bastante questionável porque esta categoria costuma eleger filmes com um número grande de atores e muitos deles perderam o Oscar (Trapaça], Histórias Cruzadas, Bastardos Inglórios, Pequena Miss Sunshine, Sideways, só pra ficar nos últimos dez anos).

Birdman provavelmente leva hoje o prêmio de melhor ator para Michael Keaton, cuja única real ameaça parece ser a queda as pessoas têm pelos papeis de deficientes, o que pode resultar na escolha de Eddie Redmayne vivendo Stephen Hawking em A Teoria de Tudo. Mas é pouco provável. Boyhood, pro sua vez, deve ter a melhor atriz coadjuvante do ano, Patricia Arquette. Se outra ganhar (Emma Stone ou keira Knightley), vai ser azarão. Julianne Moore leva fácil o prêmio de melhor atriz pro Para Sempre Alice. Rosamund Pike seria a alternativa, mas Garota Exemplar está fraco na corrida. E Whiplash deve ficar com o de coadjuvante para J.K. Simmons. Se Edward Norton ou Ethan Hawke ganharem, difícil, teremos surpresas (e uma disputa mais acirrada entre Birdman e Boyhood).

O filme de Iñarritu é uma escolha mais óbvia para ganhar um prêmio de elenco do que Boyhood. Tem Michael Keaton, Naomi Watts, Edward Norton, Emma Stone, Zach Galifianakis, Amy Ryan, Andrea Risenborough contra Ethan Hawke e Patricia Arquete junto de uma meninada. Se ganhar hoje o SAG, fica mais forte para o Oscar, mas nem tudo está perdido. Birdman sequer foi indicado para o prêmio de montagem, o que é bem estranho já que a montagem é fundamental para um projeto que combina vários planos-sequências, e para um filme que quer ganhar o Oscar principal. Dos últimos dez premiados nesta categoria, cinco levaram também melhor filme. Os outros cinco vencedores foram, pelo menos, todos indicados. Mas o efeito Argo vem para desfazer todas as regras. Como cobrar que um filme ganhe montagem se em 2012, Ben Affleck venceu a categoria principal e sequer foi indicado para direção.

O DGA, que só vai anunciar seu eleito no dia 7 de fevereiro, vai ser importante nesta disputa. Os último dez vencedores do prêmio Directors Guild of America levaram o troféu de melhor filme da Academia. Faz treze anos que os resultados são idênticos. Para se ter uma ideia, PGA antecipou o Oscar de melhor filme sete das últimas dez vezes – isso com a trapaça do anoa passado, em que 12 Anos de Escravidão e Gravidade empataram. E lembrando que os vencedores do PGA em documentário (Life, Itself) e animação (Uma Aventura LEGO) neste anos sequer foram indicados para o Oscar. Ou seja (parte 1), quem ganhar no sindicato dos diretores vai estar mais perto de resolver essa treta. Ou seja (parte 2), a corrida deste ano vai ser bem emocionante. Enquanto isso, Boyhood, Birdman e O Jogo da Imitação correm soltas.

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8 comentários sobre “Oscar 2015: Birdman vence o PGA e as apostas para o SAG”

  1. A esta altura (26/01), já sabemos que Birdman ganhou o SAG Awards . Mas acho que Boyhood ainda pode ser tido como favorito. Acho que Hollywood já “se acostumou” com filmes com pegada indie, e Boyhood vem com uma retaguarda de diversos prêmios, incluindo os principais do Globo de Ouro, que não é pouco. Tenho a impressão que O Jogo da Imitação é o café com leite do Oscar desse ano. O filme seria uma alternativa mais viável à Academia se viesse com outros prêmios de prestígio (como o Globo de Ouro), o que não é o caso. E Birdman também é um darling da critica, tanto quanto ou mais que Boyhood. Sua vitória seria um baita feito. Mas vejo que a alternativa (mais convencional, mas nem tanto) que despontou a estes dois é O Grande Hotel Budapeste, uma comédia classuda, bem realizada, com grande elenco, que pode surpreender.

  2. Vítor,

    O filme não é um plano-sequência por inteiro. Ele aparenta ser isso, mas não é, talvez seja esse motivo a polêmica da exclusão aos indicados.

  3. A briga de votos de “Boyhood” e”Birdman” deve favorecer um terceiro filme: “O Grand Hotel Budapeste”. Se ele levar o prêmio de elenco no SAG hoje a noite, vai virar um sério concorrente no Oscar e pode surpreender na noite de 22 de fevereiro, não só em prêmios técnicos, mas em categorias importantes. As 9 indicações que recebeu mostra que os votantes da Academia gostaram MUITO do filme. E não nos esqueçamos de que também ganhou o Globo de Ouro de melhor filme de comédia. Seria ele o azarão deste ano?

  4. Acho a não indicação de Birdman em montagem completamente justificável, pode até ser injusto, mas dá pra entender. Me corrija se eu estiver errado, ainda não vi o filme, mas um filme todo em plano sequência não seria uma pré-montagem? Um trabalho muito mais sofisticado e idealizado pela direção/fotografia? A montagem do filme não seria “apenas” um belo trabalho de edição ao juntar tudo? Eu até não concordo totalmente com isso, mas acho que muita gente deve ter tido essa impressão ao votar para os indicados.

    1. Bom dia. O filme não é todo um plano sequencia. Mas são vários planos ligados que dão a impressão de ter sido feito, o filme todo, em um único plano. Aí está a grandiosidade da edição de Birdman.

  5. Fiquei chocado com a exclusão de “Birdman” entre os indicados ao Oscar de melhor montagem. O trabalho foi tão bem feito que o respectivo branch deve ter achado que não houve nenhuma edição. Hahaha…
    A trilha sonora também é ótima, alguém sabe porque ela já tinha sido previamente desclassificada?

  6. B-O-M-B-A-! Inesperadíssimo… Mas fiquei feliz. “Birdman”, ao lado de “Whiplash”, é o melhor filme americano de 2014. Assisti a ele nesta semana e achei um deleite para um cinéfilo como eu. Filme extremamente maravilhoso, dinâmico, estrondoso, espetacular. Mas ainda acho que o filme é muito para a Academia. “Boyhood” vai levar, pelo menos, o Oscar de Direção.

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