Oscar 2015

Invencível, de Angelina Jolie, teve sua première mundial esta semana, em Sydney, na Austrália, país em que foi rodado, mas ninguém pode publicar opinião sobre o filme antes do dia 2 de dezembro. A prática do “embargo” é comum em algumas exibições para a imprensa de longas que ainda vão demorar para ser lançados e o segundo filme de ficção de Jolie só chega aos cinemas no dia 25 do próximo mês. Mas a decisão ajuda a refletir: se os criadores do filme realmente apostassem todas as fichas nele, não seria mais natural alimentar as expectativas deixando as críticas positivas fazendo propaganda?

Bem, Jolie não foi exatamente muito feliz em sua estreia numa trama ficcional. Na Terra de Amor e Ódio era uma sucessão de clichês e estereótipos e este novo longa tem material suficiente para qualquer um desconfiar. Conta a história real de um piloto americano que foi abatido durante a Segundo Guerra Mundial, sobreviveu no mar por 47 dias para ser capturado e torturado pelos japoneses. Ainda assim, Invencível está cotado para concorrer ao Oscar desde que o projeto foi anunciado. Resta saber se ele chega lá.

Faltam cerca de duas semanas para que a temporada de prêmios de cinema de 2014, que culmina com a entrega do prêmio da Academia, comece oficialmente. O Círculo de Críticos de Cinema de Nova York e o National Board of Review, as duas mais antigas entidades da crítica americana, vão anunciar seus escolhidos, sedimentando os palpites, apostas e bochichos que vêm sendo desenhados desde o dia seguinte à última cerimônia do Oscar, em março passado. Até agora, tudo não passa de especulação. Os experts na temporada de ouro fazem suas apostas a partir de uma mistura de perfil do filme (tom épico, histórias reais ou roteiros adaptados de livros conceituados geralmente agradam) currículo do diretor (se ele já foi indicado ao Oscar, nunca sairá do mapa) e quantidade de astros para só depois descobrir se os longas realmente “funcionaram” junto a público e crítica.

A estreia dos filmes, em circuito ou em festivais, elimina uns, aumentas as chances de outros e revela novos concorrentes. Mas o que determina mesmo quem permanece na próxima fase da disputa são os prêmios da crítica. E esses críticos parecem dizer que Boyhood, de Richard Linklater, e Birdman, de Alejandro Gonzalez Iñarritu, ganharam força com a queda ou as fragilidades de outros favoritos. Meses atrás, o primeiro só era realmente cotado para a categoria de roteiro, onde o diretor Richard Linklater já esteve duas vezes; o segundo era mais lembrado como um azarão. Resultado: ambos cresceram depois da estreia e aparecem em todas as listas de apostas para filme e direção.

Boyhood

Boyhood, que a princípio parecia um projeto haribô de Linklater, que sempre esteve mais pro cinema de autor do que para a engrenagem de Hollywood tem a seu favor a exclusividade do projeto. O filme foi rodado ao longo de 12 anos com o mesmo grupo de atores (entre eles Ethan Hawke e Patricia Arquette), o que já o deixa num patamar diferenciado. Birdman, sobre um ator assombrado por super-herói que interpretou, também conseguiu ultrapassar seu nicho de filme indie. Iñarritu é um diretor respeitado – e já indicado – pela Academia e a presença de Michael Keaton, que muitos apostam ser a “volta por cima” do ano, alavanca as possibilidades.

O Jogo da Imitação, estreia hollywoodiana do norueguês Morten Tyldum, entrou forte na disputa. Embora o filme tenha apenas 68 de 100 pontos nas resenhas do site Metacritic, que indexa crítricas feitas mundo afora, está sendo distribuído pela The Weinstein Company, tem os astros Benedict Cumberbatch, um dos atores do momento, e Keira Knightley e, como Invencível, se passa na Segunda Guerra. Temas históricos costumam agradar à Academia, o que tem beneficiado Selma, da pouco conhecida Ava DuVernay, sobre a marcha de Martin Luther King (um elogiado David Oyelowo) pelos direitos iguais para brancos e negros. O filme tem sido bastante elogiado e nenhuma lista de apostas o ignora.

Outro personagem histórico que pode impulsionar um filme é o físico inglês Stephen Hawkings. A Teoria de Tudo, baseado no livro escrito por sua mulher, também é um título fácil nas bolsas dos especialistas em Oscar, que comparam a transformação física de Eddie Remayne com a de Daniel Day-Lewis em Meu Pé Esquerdo, mas o filme não tem o mesmo apoio crítico de outros candidatos. Mais unânime é Whiplash, exibido recentemente no Festival do Rio, que reinventa a fórmula do filme professor x aluno com um roteiro inteligente, uma montagem acertada e um duelo saudável entre Miles Teller e J.K. Simmons. Parece cada vez com mais chances de ser indicado na categoria principal.

Com seis filmes consolidados (Boyhood, Birdman, O Jogo da Imitação, Selma, A Teoria de Tudo e Whiplash) e um enigma (Invencível), resta saber que outros candidatos podem ocupar as vagas finais. Ao todo, dez filmes podem ser indicados na categoria de melhor filme, mas desde que a Academia criou a regra da elasticidade que permite de cinco a dez concorrentes, somente nove conseguem chegar lá. Há três anos que é assim. Supondo que o número se repita na temporada deste ano e considerando os seis longas citados acima como boas apostas, três vagas estão em jogo; duas se mantivermos o filme de Angeline Jolie na parada.

O Incontention aposta em Sr. Turner, de Mike Leigh, para fechar a lista (para eles, seriam apenas 8 indicados). Tem fundamento: a Academia adora o diretor; o filme é uma biografia e tem um quê refinado, o que agrada um bom quinhão dos votantes; deve ser indicado em categorias técnicas como fotografia, direção de arte e figurinos, e tem chances de emplacar Timothy Spall, ótimo, entre os atores. O Awards Circuit faz apostas mais populares. Para o site, Caminhos da Floresta, nova versão de Cinderela, assinada por Rob Marshall, e Interestelar, de Christopher Nolan. O primeiro é um tiro no escuro já que ninguém viu e o tom infantil pode não ajudar. O segundo é um caso à parte.

Desde Batman, o Cavaleiro das Trevas, muita gente acha que Nolan já deveria ter sido indicado ao Oscar de direção, mas isso nunca acontece. O filme tem aquele tom épico comum às obras do diretor, mas essa grandiosidade também tem seus detratores. As bilheterias estão boas, mas o filme teve apenas a 17ª melhor estreia do ano, perdendo a primeira posição no primeiro fim de semana em circuito. E justamente depois que chegou aos cinemas a maioria dos sites desistiu de apostar em Nolan e em Jessica Chastain, nas categorias de direção e atriz coadjuvante. A campanha realmente se apequenou. O filme terá que receber bastante apoio dos prêmios de crítica para continuar com chances.

Foxcatcher

O The Film Experience é mais tradicional. Segue apostando, ainda que nas últimas posições, em Garota Exemplar e Foxcatcher. Ambos apareciam na maior parte das listas no começo da corrida, mas foram perdendo espaço aos poucos. Muita gente parece achar que o filme de David Fincher não tem cada de Oscar por ser baseado num romance policial. Só Rosamund Pike parece inabalável. Mas as qualidades do longa podem surpreender. Já o longa de Benett Miller se prejudicou pelo fato de ter tido o lançamento atrasado em um ano. As críticas foram boas, mas os experts do Oscar parecem preferir apostar nas novidades. Hoje, poucos prevêem mais indicações do que as de Steve Carrell, que anda meio desacreditado, e a da maquiagem. No entanto, como há vagas ainda incertas, ambos os filmes podem se beneficiar das boas resenhas e encontrar forças nas indicações dos críticos.

Correndo por fora, Inherent Vice, de Paul Thomas Anderson, que a Academia sempre enxergou como transgressor (só Sangue Negro chegou lá); O Grande Hotel Budapeste, de Wes Anderson, que também parece ser visto pelo Oscar como café-com-leite (só aparece como roteirista); e A Most Violent Year, de JC Chandor, que ganhou indicação de roteiro por seu primeiro filme, mas passou quase em branco com o segundo. Livre, de Jean-Marc Vallée, deve se restringir à indicação de Reese Whitherspoon. Já Sniper Americano, de Clint Eastwood, que não convence a Academia há uns dez anos, foi recebido com críticas mornas, assim como Big Eyes, de Tim Burton; e Corações de Ferro, de David Ayer. Com esses três fragilizados, Still Alice, de Richard Glatzer e Wash Westmoreland, que deve dar o Oscar de atriz a Julianne Moore, até cresce um pouco na disputa.

minhas apostas por ordem

1 Boyhood, Richard Linklater;
2 O Jogo da Imitação, Morten Tyldum;
3 Birdman, Alejandro Gonzalez Iñarritu;
4 Selma, Ava DuVernay;
5 A Teoria de Tudo, James Marsh;
6 Whiplash, Damien Chazelle;
7 Invencível, Angelina Jolie;
8 Garota Exemplar, David Fincher;

têm chances

9 Foxcatcher, Benett Miller;
10 Interestelar, Christopher Nolan;
11 Sr. Turner, Mike Leigh;
12 Vício Inerente, Paul Thomas Anderson;
13 A Most Violent Year, J.C. Chandor;
14 Still Alice, de Richard Glatzer e Wash;
15 Caminhos da Floresta, Rob Marshall;
16 O Grande Hotel Budapeste, Wes Anderson;

quase fora da disputa

17 Sniper Americano, Clint Eastwood;
18 Corações de Ferro, David Ayer;
19 Big Eyes, Tim Burton;
20 Wild, Jean-Marc Vallée.

Comentários

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11 comentários sobre “Oscar 2015: como anda a corrida do ouro”

  1. Cara, como o Chico pode dar 1 estrela para “Interestelar” e depois colocar ele como chance de Oscar. Tudo bem não gostar do filme, mas a partir dessa opinião, seja coerente e retira ele dessa lista. Agora vai dizer que não gostou mas é uma previsão se a Academia indicar? Ahhhh, se minha mãe fosse homem ela era meu pai.

  2. Chico também tem o filme “O abutre” (Nightcrawler) que está recebendo criticas altíssimas com com destaque para atuação de Jake Gyllenhaal. 76% no Metacritic e 94% no Rotten Tomatoes. Pode surpreender.
    E eu colocaria Garota Exemplar mais acima na minha cotação para melhor filme já que ganhou recentemente o principal prêmio no Hollywood Film Awards.

  3. Interestelar é um caso a parte mesmo, pois me parece que o maior adversário dele é ele mesmo, e a competição desse ano nem me parece ser tão forte. Seria a vaga “da indústria” no Oscar 2015 se não fosse a recepção tão dividida da crítica. Certamente será indicado para vários prêmios técnicos, mas uma eventual indicação na categoria principal dependerá se a comunidade acadêmica (leia-se, Hollywood) “comprar” o filme, porque a crítica já desistiu faz tempo (a não ser que haja uma reviravolta nas Guilds, pouco provável). Por ter um estilo épico, isso pode favorecer Interestelar, caso não haja consenso em relação às últimas vagas.

  4. Realmente estou torcendo por Boyhood, mesmo sem ter visto os demais filmes citados. Há tempos admiro o trabalho do Richard Linklater e será uma alegria vê-lo levando um Oscar.

  5. Boyhood é um filme convencional, mesmo tendo a ideia original de filmar o crescimento de um garoto. Está longe de ser uma obra-prima.

    1. Nem entro nesta discussão de obra-prima, mas o fato é que o projeto causou um enorme impacto e está se mantendo entre os candidatos mais sólidos.

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