Santiago

Talvez Santiago, de João Moreira Salles, seja um grande golpe de marketing. Um filme que já se põe à parte pelo formato que apresenta um até então projeto inacabado. Filmes que nunca foram concluídos de cineastas conhecidos ganham auras instantaneamente. E retomar um projeto 16 anos depois é algo que naturalmente chamaria a atenção. Virá-lo pelo avesso multiplica essa visibilidade.

Santiago, o homem, já era um personagem ímpar. De qualquer maneira, o filme seria viável por mais que Salles negue essa possibilidade. E, completado de forma convencional, provavelmente, seria tão feliz quanto os outros bons trabalhos do diretor. Mas isso pode não ter sido suficiente. Possivelmente o cineasta quisesse algo diferente, especial. Talvez quisesse mesmo impacto. Ou ainda se livrar das explicações por ter voltado a seu antigo mordomo já que nega a culpa como motivo.

Aí outro talvez. Talvez seja extremamente calculista assumir-se como vilão, editar-se como arrogante e ‘desmarcarar-se’ para a platéia sob a égide do humilíssimo. Porque é assim que soa, não é? Abrir-se, revelar-se, expor-se. Tudo parece tão digno e honroso – e esse seria um belo filme de despedida, já que João Moreira Salles se anuncia desiludido com o cinema. Ou com um jeito velho de documentar.

Mas isso não seria contradição já que Santiago muda o foco de seu cinema e apresenta outra proposta, outras idéias sobre a idéia do registro? Só me resta especular. Talvez só o tempo – junto com os próximos passos do diretor – irá me dizer o quão sincero este filme foi. Por enquanto, o que me encanta é a habilidade de promover linguagem, de reordenar a memória, de construir a partir da desconstrução. Por enquanto, hoje, para mim, este filme é genial. Ou seu autor é um golpista admirável.

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[Santiago, João Moreira Salles, 2007]

Comentários

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10 comentários sobre “Santiago”

  1. Vi ontem. Achei genial também. Confessional. Questionador. Melancólico. Tom de despedida total.
    Mas, assim como vc, sempre fico questionando o que vejo. Será?

    Beijoca.

  2. Vi ontem. Achei genial também. Confessional. Questionador. Melancólico. Tom de despedida total.
    Mas, assim como vc, sempre fico questionando o que vejo. Será?

    Beijoca.

  3. Acho que tem três filmes em Santiago:

    1. Sobre o João, sobre o que ele era e o que é agora. Aquilo que o Tiago disse.

    2. Sobre o Santiago, subserviência e etc.

    3. Sobre fazer cinema documentário.

    2 e 3 são tão bons que compensam até uma suposta arrogância do 1.

  4. Pois é, eu acho justamente que o filme não é para isso, Tiago.

    Heron, eu acho o filme bem melancólico.

    David, um dos melhores do ano sem nacionalidades em questão para mim.

  5. Two thumbs up! hehe. Brincadeira. Não acho tão bom assim não, ainda considero estranha essa história de o sujeito fazer um filme inteiro pra mostrar o quanto mudou, o quanto aprendeu, o quanto era um diretor de cinema fuleiro etc. Não compro.

  6. Vi Santiago no último Seminário Internacional de Cinema de Salvador, foi aplaudido por 5 minutos uau. Para os teóricos é um deleite, pq questiona problemas de ética e representação… gostei dele pq é engraçado, um dos documentários mais bem-humorados que vi no Brasil. Bom texto.

    [www.metaplano.blogger.com.br]

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