The Canyons

Durante os 99 minutos de The Canyons, Paul Schrader tenta convencer o espectador de que a história que ele está contando é importante. Desde o primeiro momento, antes mesmo da produção começar, o diretor parece querer vender seu filme como especial. Para os papeis principais, ele escala uma atriz decadente, que, entre uma temporada e outra na prisão, tenta reerguer o que sobrou de sua carreira, e um ator pornô. Mas a simples presença de Lindsay Lohan, de cujo comportamento o próprio cineasta afirmou ter se tornado “refém”, não garante a substância que o filme pretende ter. A escolha de uma protagonista decadente não significa que o cineasta desvendou a decadência dos bastidores do mundo do cinema em Hollywood.

Na tela, a impressão é de que Lohan está sob controle, o que não quer dizer que a atriz ofereça muita coisa. Schrader diz que as filmagens foram infernais e que a estrela frequentemente chegava bêbada para gravar suas cenas, mas que conseguiu extrair dela o que pretendia, o que indica que ele não pretendia muita coisa. James Deen, famoso no mercado pornô, para se ter uma ideia, é melhor ator do que ela, embora também não faça mais do que o básico. Os dois estão no centro de uma trama com ecos noir, cheia de cenas de sexo sem apelo, que recicla ideias velhas e muitas vezes é tão refinada quanto as sessões eróticas que a Band reservava para o fim da noite.

Paul Schrader tem um currículo invejável. Assinou os roteiros de Taxi Driver e Touro Indomável, dirigiu Vivendo na Corda Bamba e Hardcore. Em seus trabalhos como cineasta, sempre namorou com o submundo, flertou com o kitsch, mas aqui parece radicalizar. Revezando suspense e erotismo, sem nunca se aprofundar em nenhum deles, The Canyons não passa a impressão de “investigação em estado bruto”, como talvez seja seu projeto, mas filme mal acabado sobre um tema que não se afasta do mais do mesmo.

Talvez influenciado pela presença de James Deen, o roteirista Bret Easton Ellis, que fez o fraco Psicopata Americano, incorpora, numa atmosfera B oitentista, cacoetes do cinema pornô, que Schrader valoriza na realização, embora continue com talento para compor visualmente as cenas. Nem diretor, nem escritor dão atenção para a composição dos personagens, construídos com a profundidade de uma sinopse, deixando Lindsay Lohan e Deen à vontade para ser superficiais.

The Canyons Estrelinha½
[The Canyons, Paul Schrader, 2013]

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