The PostHavia muitas razões para se fazer The Post. Steven Spielberg parece ter dirigido o filme pela menos nobre delas, oportunismo. Ele mesmo reconhece nas entrevistas que queria aproveitar o momento em que Donald Trump quer cercear a mídia para lançar um libelo pela liberdade de imprensa. Faz sentido. Aliás, faria caso o filme fosse minimamente bem acabado. A sensação que se tem ao longo da sessão é de um trabalho feito às pressas, o que não condiz com o próprio histórico de compromisso de Spielberg com a qualidade técnica de seus filmes.

Neste último longa, ele tenta, mas não sabe como dar a dimensão que queria para o episódio dos “papéis do Pentágono”, então, apela para o maniqueísmo. Não encontrou o ritmo e o timing corretos para passar a urgência daquela situação tão sintomática e força a barra para criar tensão. Várias vezes. Em cenas em que isso não cabe. Talvez por não ter tempo para desenhar as nuances de seus personagens, o filme tende a simplificá-los, reduzi-los e, de certa forma, ridicularizá-los, justamente quando tenta passar a ideia contrária. O mais surpreendente no longa é como ele é mal encenado, o que talvez seja inédito na filmografia do cineasta. Tem cenas, alguns dos momentos-chave, por sinal, que parecem sair de escolinhas de teatro para adolescentes, de tão artificiais, deixando exposto o esqueleto do filme, seu rascunho.

Rascunho talvez seja a melhor definição para este projeto. The Post parece um rascunho do que poderia ser. Talvez fosse um filme melhor, pelo menos mais bem acabado se houvesse mais tempo para se pensar o filme, se ele ficasse pro ano que vem, por exemplo. É quase indigno quando se tenta relacionar a personagem de Meryl Streep com as movimentações feministas dos últimos tempos, segurando a mão do espectador para mostrar o que ele deve achar daquela mulher. Tem uma cena em especial, que se passa numa escadaria, constrangedora, que parece apenas um golpe oportunista para tentar se aproveitar do calor das discussões. A atriz talvez não tenha tido tempo suficiente para encontrar explorar as nuances de sua personagem, parece aceitar acomodada que está interpretando uma tonta. Protagoniza as cenas mais importantes do filme, quando Spielberg parece querer recuperar seu domínio pela manipulação sentimental, mas é podado pelo roteiro ruim.

Tom Hanks está no piloto automático como quase toda a equipe, que nem consegue ser tão maniqueísta quando pretende porque o filme patina à procura de um tom. Não adiantou muito contratar um dos autores de Spotlight (opotunismo?) e uma mulher (oportunismo?) que assina seu primeiro script para “capturar o momento”. Nem a montagem do experiente Michael Kahn, que deveria deitar e rolar num filme como este, chama atenção. A lógica é de telefilme, é o registro em branco, sem qualquer análise, qualquer olhar, pelo menos um olhar espontâneo. E, sem querer dar spoilers, a “sacada” da cena final é quase um plágio de um certo filme sobre a Operação Lava-Jato. Muito decepcionante vindo do melhor manipulador de emoções que Hollywood já produziu.

The Post: A Guerra Secreta EstrelinhaEstrelinha
The Post, Steven Spielberg, 2017

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