Uma grande ideia nem sempre resulta num grande filme. Chris Sparling teve uma das boas há dois anos, quando imaginou um longa totalmente passado dentro de um caixão. Enterrado Vivo, dirigido por Rodrigo Cortés, é um belo exemplo de como um ponto de partida forte pode ter fôlego para se estender por 95 minutos de filme, sem recorrer a elementos externos e, ainda assim, manter a forma ágil e inteligente. O roteiro recebeu elogios e os elogios se converteram em indicações e prêmios. Sparling, em estado de graça, elegeu esse modelo de filme como seu.
Dois anos depois, o roteirista assina Armadilha, longa dirigido pelo estreante David Brooks. A fórmula é a mesma de seu texto mais conhecido, com algumas pequenas modificações que fazem uma monstruosa diferença. O caixão foi substituído por um caixa eletrônico, mas ao contrário do filme anterior, mais conceitual, a ação aqui não se limita a uma só locação. Existe uma grande seqüência de abertura que leva os personagens até seu destino. Por sinal, é a parte mais bem resolvida do filme, já que permite que explorar perfis e iniciar conflitos.
O efeito do surgimento do vilão, que desta vez aparece em carne e osso, não dura muito. Se Enterrado Vivo explorava ao máximo o cenário, criando nuances diferentes para cada mudança de iluminação, fazendo da montagem, linguagem, o novo filme abre o foco para dar conta de todos os personagens e enfraquece a proposta. Com a obrigação de seguir tanta gente, o caixa eletrônico, que deveria ser começo, meio e fim da história, fica invisível na trama. O excesso de pontas minimiza a claustrofobia do cenário “único” e o roteiro passa a recorrer a soluções manjadas demais – ou ruins mesmo – para os destinos dos personagens. Uma ideia reprisada nem sempre reprisa um bom filme.
Armadilha ½
[ATM, David Brooks, 2012]