Coco Chanel & Igor Stravinsky, Jan Kounen, 2009
Um filme surpreendente de certa forma, muito melhor do que o longa com a Audrey Tautou, uma biografia conservadora, embora os dois registrem momentos diferentes da vida da estilista. Jan Kounen trabalhou com um recorte específico, a relação entre Chanel e Stravinsky (o filme só foge dessa clausura na sequência em que a estilista vai aprovar a fragrância de seu perfume). Embora pareça limitador, esse terreno fechado faz o material crescer. O diretor tem uma habilidade inegável em administrar tensões (usando muito bem a música de Stravinsky e a trilha original de Gabriel Yared), sobretudo na sequência da apresentação, logo no início. O que faltou ao filme foi uma protagonista mais expressiva do que Anna Mouglalis.
Fais-moi plaisir!, Emmanuel Moret, 2009
Hoje em dia as comédias têm uma necessidade tão grande de ser vulgares que parece não haver mais espaço para a inocência. Nesse sentido, o filme de Emmanuel Moret pode parecer um cinema tolo, mas é uma surpresa acalentadora. O diretor, que também protagoniza o filme, se aventua na comédia de situações, com formato e linguagem assumidamente retrô. Ora evoca Jerry Lewis, ora Jacques Tati, ora Peter Sellers, sempre dando uma graça quase musical às cenas, sobretudo, as de humor físico ou quando parte para o nonsense.
Hadewijch, Bruno Dumont, 2009
O pouco que eu vi do cinema de Bruno Dumont me parece presunçoso demais, então, foi com surpresa que eu percebi que tinha finalmente gostado de filme do diretor. Sua metodologia de filmar não mudou: ele apresenta lentamente seus personagens sem nunca revelá-los por completo, transformando a observação em informação. O que mudou, a meu ver, foi como o cineasta conseguiu dar cabo de sua proposta inicial, que talvez mal comparando e guardadas as devidas proporções, remeta à obra-prima Um Filme Falado, do Manoel de Oliveira, ainda que sem a mesma originalidade. Dumont, de uma forma extremamente sutil e bem articulada, consegue materializar o incômodo da protagonista pela não-consumação de seu amor por Deus e assim tentar entender manifestações de extremismo religioso.
Oceans, Jacques Perrin e Jacques Cluzaud, 2009
Documentários sobre a vida subaquática parecem todos iguais, mas sempre trazem algumas imagens novas que nos impressionam ou por sua beleza ou por suas particularidades. Este aqui obedece essas regras, reduzindo durante a maior parte de sua projeção a presença do narrador, o que deixa sua montagem mais inteligente. O que diferencia Oceanos, no entanto, é como seus diretores resolvem se utilizar do encantamento natural das imagens para montar um panfleto ecológico, o que de maneira alguma é demérito, mas que me fez pensar sobre a utilização de efeitos digitais em documentários. Em muitos momentos (e eu não estou falando sobre as cenas de massacre), a beleza das imagens ganha uma ajuda considerável do CGI, muito além de melhorar a qualidade do material, colocando em cheque o que estamos vendo. Se um documentário sobre o fundo do mar deveria encantar pelo que existe no fundo do mar por que criar cenas fake apenas para ampliar o impacto dessas imagens, mesmo que os efeitos sejam bons?
Le Petit Nicolas, Laurent Tirard, 2009
Este deve ser o melhor filme francês comercial que eu vi em muito tempo. Laurent Tirard consegue o tudo o que os longas de Gerard Jugnot tentam, mas esbarram na pasteurização, tanto visual quanto de humor. O Pequeno Nicolas, adaptado de uma série de livros infantis, sabe usar o verniz das cores fortes a favor da história, engraçadíssima, do garotinho que acha que vai ganhar um irmão. O roteiro, que tem entre seus autores o comediante Alain Chabat, consegue manter o universo infantil intocado (nas brincadeiras e sobretudo na maneira de pensar das crianças do pós-guerra) sem idiotizá-lo, como acontece com muitos filmes feitos para este público. O elenco infantil é delicioso – praticamente todos têm momentos solo especiais – e os adultos, incluindo Sandrinne Kiberlain como a professora e Valérie Lemercier, adorável como a mãe do protagonista, dão o molho final. Pra ver com um sorriso no rosto.
Le Refuge, François Ozon, 2009
François Ozon talvez seja o mais versátil diretor do cinema francês atual, transitando por gêneros e formatos com imensa habilidade, mesmo que nem sempre os resultados sejam completamente bons. O Refúgio é um filme que se encaixa nessa definição, mas isso não deveria desanimar ninguém. Depois de uma abertura que promete, com uma viciada em heroína se descobrindo grávida ao lado do namorado morto de overdose, Ozon encontra duas situações-clichê sobrepostas para dar sequência à trama. A primeira é a aproximação entre cunhado e cunhada. A segunda, a atração entre uma mulher hetero e um homem gay. A partir daí, o diretor tenta desenvolver sua personagem, que busca seu espaço num mundo que tenta reconstruir. Há algumas boas soluções, mas muitas vezes o filme não sai do lugar comum. Clean e O Céu de Suely têm situações semelhantes e se resolvem bem melhor.
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