O Estranho Caso de Angélica

Enquanto O Gebo e a Sombra, último filme de Manoel de Oliveira, não chega aos cinemas brasileiros, o longa anterior do cineasta mais velho do mundo finalmente desembarca em circuito comercial. E esta obra, cheia de efeitos especiais, compõe um ponto à parte na filmografia do diretor, parecendo conversar com a própria natureza fascinante e assustadora do cinema. O centenário diretor parece se prostrar diante da figura da personagem-título como alguém que não é capaz de resistir ao fascínio de uma imagem.

Oliveira cria uma história de amor que transcende a morte em O Estranho Caso de Angélica, um respiro em seus filmes mais densos, uma brincadeira conduzida com suavidade, apesar do diretor sempre fazer questão de dar corpo ao sentimento de seu protagonista. Angélica é uma jovem recém-falecida que o personagem, um fotógrafo, precisa registrar. Mas a imagem daquela bela mulher sem vida e seu sorriso indecifrável como o da Mona Lisa se tornam uma obsessão para ele e passam a persegui-lo em fantasmagóricas aparições que nosso cineasta centenário filme lindamente.

O roteiro abraça o fantástico e as imagens incorporam a ideia sem pudores em algumas das cenas mais lúdicas entre os trabalhos recentes do cineasta. O filme, embora contraponha a fantasia fantasma com a realidade cruel da vila onde a história se passa, também é farto de bom humor, mesmo quando Manoel faz suas citações de praxe, elegendo temas curiosos para uma mesa de almoço. A iluminação precária reforça o poder daqueles planos, evoca cinemas antigos e afirma a vocação do diretor para compor quadros que abusam da estática. Angélica, seu fantasma, seu sorriso, representariam tanto a força sedutora da imagem, do cinema, quanto um ponto de fuga para outras imagens, para outros cinemas.

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[O Estranho Caso de Angélica, Manoel de Oliveira, 2010]

http://www.youtube.com/watch?v=MC98eTStmS8

Comentários

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3 comentários sobre “O Estranho Caso de Angélica”

  1. É um filme mesmo suave e menos grandiloquente que outros dele. O aspecto "artesanal" dos efeitos especiais, fotografia e iluminação ganha outra dimensão caso se tenha em mente a obra do pintor Marc Chagall (e seus seres voadores) – a referência estética e afetiva "mais" importante do longa.

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