A imagem ao lado é de “A Esposa de Tchaikovsky”, um dos meus filmes favoritos em 2022. Uma biografia operística em tom de delírio, cheia de imagens magníficas, que conversa muito com a alucinação dos tempos atuais e representa bem toda a relação abaixo. O ano terminou e teve grandes filmes. Entre tudo o que assisti, de diretores veteranos a estreantes, do cinema-espetáculo ao independente às cinematografias menos tradicionais, 2022 nos deu alguns bons motivos para seguir em frente. Listei aqui meus 100 filmes favoritos vistos este ano (só filmes originais de  2020, 2021 e 2022, como sempre). Em seguida, temos os indicados ao Chikitos, meu prêmio pessoal de melhores do ano no cinema. Que os ventos da mudança continuem soprando.

100 Manguebit (idem, Jura Capela, 2022)
99 Fantasmas do Passado (Master, Mariama Diallo, 2022) — Prime Video
98 Com Amor e Fúria (Avec amour et aAcharnement, Claire Denis, 2022)
97 Psycho Goreman (idem, Steven Kostanski, 2020)
96 Alcarràs (idem, Carla Simón, 2022)
95 Adeus, Capitão (idem, Vincent Carelli e Tatiana Almeida, 2022)
94 All That Breathes (idem, Shaunak Sen, 2022)
93 Geada de Netuno (Neptune Frost, Saul Williams e Anisia Uzeyman, 2021)
92 Paterno (idem, Marcelo Lordello, 2022)
91 Coma (idem, Bertrand Bonello, 2022)

90 Seguindo Todos os Protocolos (idem, Fábio Leal, 2022)
89 O Beco do Pesadelo (Nightmare Alley, Guillermo del Toro, 2021 — Star+
88 What Josiah Saw (idem, Vincent Grashaw)
87 January (idem, Viesturs Kairiss, 2022)
86 Decisão de Partir (Heojil Kyolshim, Park Chan-wook, 2022)
85 Resurrection (idem, Andrew Semans, 2022) ) — Claro Video
84 Argentina, 1985 (idem, Santiago Mitre) — Prime Video
83 Lake Forest Park (idem, Kersti Jan Werdal, 2022)
82 Marcel the Shell with the Shoes On (idem, Dean Fleischer-Camp, 2021)
81 Fumar Causa Tosse (Fumer Fait Tousser, Quentin Dupieux, 2022)

80 Contratempos (À Plein Temps, Eric Gravel, 2021)
79 Joyland (idem, Saim Sadiq, 2022)
78 Maputo Nakuzandza (idem, Ariadine Zampaulo, 2022)
77 Funny Pages (idem, Owen Kline, 2022)
76 Os Olhos Debaixo (The Eyes Below, Alexis Bruchon, 2022)
75 Il Buco – Das Profundezas (Il Buco, Michelangelo Frammartino, 2021)
74 Babi Yar. Contexto (Babi Yar. Context, Sergey Loznitsa, 2021)
73 Os Guardiões da Eternidade (The Timekeepers of Eternity, Aristotelis Maragkos, 2021)
72 Emily (idem, Frances O’Connor, 2022)
71 Armageddon Time (idem, James Gray, 2o22)

70 Vulcões: A Tragédia de Katia e Maurice Krafft (Fire of Love, Sara Dosa, 2022) ) — Disney+
69 Stars at Noon (idem, Claire Denis, 2022)
68 Ito (idem, Satoko Yokohama, 2021)
67 Ninjababy (idem, Yngvild Sve Flikke, 2021)
66 A Leave (idem, Lee Ran-hee, 2020)
65 Freda (idem, Gessica Geneus, 2021)
64 Poeta (Akyn, Darezhan Omirbayev, 2021)
63 In Front of Your Face (Dangsin-eolgul-apeseo, Hong Sang-soo, 2021)
62 Verão (Leto, Vadim Kostrov, 2021)
61 Concorrência Oficial (Competencia Oficial, Mariano Cohn e Gastón Duprat, 2021)

60 Paloma (idem, Marcelo Gomes, 2022) — Globoplay
59 Salgueiros Cegos, Mulher Dormindo (Saules Aveugles, Femme Endormie, Pierre Földes, 2022)
58 Sem Ursos (No Bears, Jafar Panahi, 2022)
57 Belas Criaturas (Berdreymi, Guðmundur Arnar Guðmundsson, 2022)
56 Red: Crescer é uma Fera (Turning Red, Domee Shi, 2022) — Disney+
55 Incredible But True (Incroyable Mais Vrai, Quentin Dupieux, 2022)
54 Até Sexta, Robinson (À Vendredi, Robinson, Mitra Farahani, 2022)
53 A Menina Silenciosa (An Cailín Ciúin, Colm Bairéad, 2022)
52 I Don’t Fire Myself (Naneun nareul Haegohaji Anneunda, Lee Tae-Gyeom, 2020)
51 As Bestas (idem, Rodrigo Sorogoyen, 2022)

50 Dias Ardentes (Kurak Günler, Emin Alper, 2022)
49 Você Tem Que Vir e Ver (Tenéis que Venir a Verla, Jonás Trueba, 2022)
48 Filme Particular (idem, Janaína Nagata, 2022)
47 Pleasure (idem, Ninja Thyberg, 2021) — MUBI
46 RRR: Rebelião, Revolta e Revolução (RRR: Rise Roar Revolt, S. S. Rajamouli, 2022) — Netflix
45 Agitação (Unrueh, Cyril Schäublin, 2022)
44 Strawberry Mansion (idem, Kentucker Audley e Albert Birney, 2021)
43 Shin Ultraman (idem, Shinji Higuchi, 2022)
42 Mato Seco em Chamas (idem, Adirley Queirós e Joana Pimenta, 2022)
41 Retorno da Lenda (Old Henry, Potsy Ponciroli, 2021)

40 The Fire Within: A Requiem for Katia and Maurice Krafft (idem, Werner Herzog, 2022)
39 Kimi: Alguém Está Escutando (Kimi, Steven Soderbergh, 2022) — HBO Max
38 O Acontecimento (L’Événement, Audrey Diwan, 2021) — HBO Max
37 Deadstream (idem, Joseph Winter e Vanessa Winter, 2022)
36 A Filha Perdida (The Lost Daughter, Maggie Gyllenhaal, 2021) — Netflix
35 The Killer (Deo Killeo: Jugeodo doeneun ai, Choi Jae-Hoon, 2022)
34 Terrifier 2 (idem, Damien Leone, 2022)
33 Raging Fire (Nou Fo, Benny Chan, 2021)
32 Pinóquio de Guillermo del Toro (Guillermo del Toro’s Pinocchio, 2022) — Netflix
31 Crimes do Futuro (Crimes of the Future, David Cronenberg, 2022) — MUBI

30 Woodlands Dark and Days Bewitched: A History of Folk Horror (idem, Kier-La Janisse, 2021)
29 A Integridade de Joseph Chambers (The Integrity of Joseph Chambers, Robert Machoian, 2022)
28 Ascensão (Ascension, Jessica Kingdon, 2021– NOW
27 Top Gun: Maverick (idem, Joseph Kosinski, 2022) — Globoplay, NOW e Claro Video
26 Era Uma Vez um Gênio (Three Thousand Years of Longing, George Miller, 2022) — NOW
25 Nightsiren (idem, Tereza Nvotová, 2022)
24 Close (idem, Lukas Dhont, 2022)
23 Confess, Fletch (idem, Greg Mottola, 2022)
22 As Fitas de Turismo de Denver (Denver Tourism Tapes, Mike Schwanke, 2022)
21 Apollo 10 e Meio: Aventura na Era Espacial (Apollo 10½: A Space Age Childhood, Richard Linklater, 2022) — Netflix

20 Emergência (Emergency, Carey Williams, 2022) — Prime Video
19 Intolerance (Kûhaku, Keisuke Yoshida, 2021)
18 Don Juan (idem, Serge Bozon, 2022)
17 Leonor Nunca Morrerá (Leonor Will Never Die, Martika Ramirez Escobar, 2022)
16 Marte Um (idem, Gabriel Martins, 2022)
15 Petite Solange (idem, Axelle Ropert, 2021)
14 Fogo-Fátuo (idem, João Pedro Rodrigues, 2022)
13 Nobody’s Hero (Viens Je T’emmène, Alain Guiraudie, 2022)
12 Batman (The Batman, Matt Reeves, 2022) — HBO Max e NOW
11 Faya Dayi (idem, Jessica Beshir, 2021) — MUBI

TOP 10: INDICADOS AO CHIKITO DE MELHOR FILME

Trinta anos atrás, “Os Imperdoáveis”, de Clint Eastwood, ganhava o primeiro Chikito, que naquela época ainda atendia por Frankie, como “filme do ano”. Era a primeira edição do meu prêmio anual para os melhores do cinema, que ao longo destes anos parou nas mãos de nomes como Martin Scorsese, Pedro Almodóvar, Quentin Tarantino, Apichatpong Weerasethakul, Gus Van Sant e Lav Diaz, entre muitos outros. David Lynch e James Gray foram os únicos a ganhar duas vezes. Chegamos à edição número 30 dos Chikitose, como sempre, o recorte do Chikito é muito pessoal: são elegíveis todos os filmes dos últimos três anos (2020-2022) que eu vi pela primeira vez no ano em questão.

10 Bem-vindos de Novo (idem, Marcos Yoshi, 2021)

Não estava preparado para este retrato amargo e melancólico de uma família que nunca se consumou como família porque sempre esteve tentando se fazer existir. Impressionante como um documentário de linguagem tão simples consegue ser um retrato de uma cultura e da condição de “visitante” a que muitos descendentes de imigrantes estão presos, e também uma homenagem/acerto de contas a/com os pais do diretor, ausentes na vida dos 3 filhos. Um filme sobre quem partiu e quem ficou com um olhar bem genuíno do diretor para sua família. Da curiosidade de quem quer entender decisões que definiram sua vida ao ressentimento pela maneira como essa vida se estabeleceu, uma exposição que permite um raro momento de comunhão.

9 Os Fabelmans, Steven Spielberg

Na cena mais impressionante de “The Fabelmans”, um veterano Spielberg filma um jovem Spielberg montando um de seus filmes caseiros e fazendo uma descoberta que muda para sempre sua relação com a própria família. É um registro em que o diretor parece emular seu amigo Brian De Palma trazendo para o primeiro plano o ofício de de fazer filmes. Um negócio lindo, mágico, terrível. Este longa, mais do que uma volta nostálgica à infância e adolescência do cineasta, ao começo de seu encantamento e a seus primeiros passos no cinema, é um filme sobre se expor para fazer as pazes com sua família e celebrar as dores e delícias que herdou de seu pai e de sua mãe.

8 Licorice Pizza (idem, Paul Thomas Anderson, 2021) — Prime Video

Outra volta ao passado, outro mestre na direção de detalhes. Aqui a cena em que os dois protagonistas correm pela cidade dá a exata tradução do que é esse filme: um passeio livre pelas memórias de tempos de amores e descobertas, algo bem diferente do que Paul Thomas Anderson fez ao longo de toda sua carreira sempre guiada pelo tom acima. “Licorice Pizza” é a pausa para tomar um sorvete, a conversa entre dois amigos, um olhar nostálgico, mas sem peso, sobre um tempo bom. É impressionante com um diretor tão calculista, no bom sentido, faz isso de novo aqui, mas com tanta habilidade que o que fica é a sensação de liberdade, uma espontaneidade construída, mas tão acolhedora que nada mais importa.

7 Noites de Paris (Les Passagers de la Nuit, Mikhael Hërs, 2022)

Veja bem, meu bem. Sinto te informar. Se você é daqueles que querem filme “com história”, não vejam “Noites de Paris”. Eis um filme que passeia sobre vários temas como se os encontrasse no corredor porque ele não está interessado em desenvolver nenhum daqueles assuntos, mas de registrar algo que flutua sobre eles, a maneira como atravessamos a vida e nossas relações com as pessoas em torno de nós. É como se uma câmera mágica chegasse de forma doce para registrar o cotidiano de uma mulher e seus filhos, sobrevivendo à vida, desenhando os próximos passos e aprendendo com os vais-e-vens do dia-dia. Que a poética da sensibilidade de Mikhael Hers seja infinita.

6 Não! Não Olhe! (Nope, Jordan Peele, 2022) — NOW e Claro Video

O espetáculo do cinema filmado por alguém cheio de referências, reverências e um apetite para desconstruir uma visão tradicional da história e da indústria de filmes. Peele, num movimento ousado, amplia as temáticas que lhe eram centrais nos trabalhos anteriores e, mais uma vez, utiliza o cinema de gênero para tratar de questões maiores. De Muybridge a Spielberg, de Hitchcock a Ford, tudo é homenagem e tudo tem subtexto. A mesma moeda que mata é que garante a bilheteria. No cenário do faroeste onde homens brancos destruíam indígenas, resistem negros, asiáticos e latinos. O invasor está entre nós, seja no cinema de Shyamalan, seja num programa de TV. Mas nem tudo está perdido, temos sempre o TMZ.

5 Boliche de Saturno (Bowling Saturne, Patricia Mazuy, 2022)

Em “Boliche de Saturno”, Patricia Mazuy aceita todos os riscos ao registrar em imagens, que nunca se esquivam de seu objeto, a violência. A cena, que acontece ainda no começo do filme, é bastante gráfica e, por isso mesmo, bem angustiante, mas está longe de ser um retrato fetichista da brutalidade contra as mulheres. A elegância e a precisão da diretora utilizam os elementos mais cinematográficos com bastante equilíbrio para fazer a denúncia de uma realidade que raramente ganha uma tradução tão forte. É o cinema aplicado para um determinado objetivo, sem fazer alarde de que está sendo usado desta forma até porque Mazuy amplia a narrativa para um thriller noir sobre o confronto entre dois irmãos.

4 The Souvenir: Part II (idem, Joanna Hogg, 2021) — Claro Video

Não estava esperando esse “The Souvenir: Part II”. Não consegui entrar muito na proposta do primeiro e desconfiei muito quando vi que a Joanna Hogg tinha feito um segundo. Como aquela história sobre uma relação abusiva poderia continuar? Mas a diretora me tirou o chão e fez um filme sobre a reconstrução de uma vida literalmente pela arte. Não é um filme de amargura e nem exatamente um filme de solidão, mas um filme sobre se reencontrar no mundo a partir da criação. E, com esta proposta, Hogg faz uma homenagem ao ofício de fazer filmes, sempre de uma maneira tão aberta, tão livre, tão anárquica no modo sarcástico — e puro — como olha para todas as etapas do processo e as reproduz sob um filtro crítico, meio ridículo, mas sem medo do ridículo, que, vou te dizer, não lembro de ver alguém com essa coragem — ou seria cara-de-pau?

3 Crônica de uma Relação Passageira (Chronique d’une Liaison Passagère, Emmanuel Moret, 2022)

Numa das cenas mais bonitas e tristes deste ano, o protagonista de “Crônica de uma Relação Passageira” cobra sua ex-amante: “por que você não fez nada se você sabia que eu não conseguiria fazer nada?”. Mouret abre seu filme com o primeiro encontro destes personagens e, a partir daí, todas as cenas são reencontros entre os dois. Um filme fechado nesta relação “clandestina”, já que ele é casado. Mas se a discussão começa por este pormenor, logo temas mais profundos surgem no filme: a efemeridade, a dependência emocional, a maneira como nossa individualidade é castrada pelos padrões sociais. A aventura amorosa vira espaço para discussões extremamente complexas, mas que Mouret conduz com tanta naturalidade que parecem detalhes da trama que só ganham sentido depois.

2 A Esposa de Tchaikovsky (Zhena Chaikovskogo, Kirill Serebrennikov, 2022)

As ruas de Moscou e São Petersburgo são cheias de lama e povoadas por mendigos no novo filme de Kirill Serebrennikov, mas “A Esposa de Tchaikovsky” está longe de pretender ser realista: o retrato objetivo da Rússia do final do século 19 fica concentrado nestas poucas cenas externas para que o encontro do melodrama clássico com o filme de delírio. O cinema do diretor, que parece caminhar para utilizar o estado de alucinação como sua principal característica, encontra aqui seu momento mais radical. Qual a melhor forma para contar a história de uma mulher que amava um homem que nunca existiu, pelo menos como idealizado por ela? Que formato traduziria melhor uma figura incompreendida, rotulada, que viveu das raspas de sua própria imaginação? Serebrennikov compõe dezenas de cenas impressionantes nesta estrada pelos caminhos da mente. Saí emocionado do cinema.

1 Aftersun (idem, Charlotte Wells, 2022)

Charlotte Wells não oferece respostas, mas também não está interessada em perguntas. Parte de um registro caseiro de vídeos que ora ou outra os personagens param para assistir, como se repassassem suas histórias junto com o espectador, ajudando a construir e reconstruir uma relação entre pai e filha da qual temos poucas informações. Uma viagem de férias que ganha a forma de filme de memórias e reconfigura o que conhecemos como “cinema de afeto” porque nos oferece, além da troca adorável entre os personagens de Paul Mescal e Frankie Corio, um formato, um projeto real de cinema.

A diretora usa câmera, montagem e música para modelar e brinca com a nossa eterna pré-disposição sydfieldiana para acreditar que cada escolha tem segundas intenções e implicará em novos movimentos na trama. Frequentemente o longa parece apontar caminhos que ele não tem o menor interesse em percorrer. Wells passa por todas as armadilhas e tira o pé de todas elas, evitando elementos alheios à relação que tenta desenhar entre os protagonistas. “Aftersun” é simplesmente o registro de um momento de amor, uma viagem cujo principal “evento” é a celebração do carinho, do cuidado e da troca entre pai e filha. Eles jogam, vão para a piscina, são confundidos com irmãos, dão muitas risadas e são felizes.

Uma Sophie adulta aparece de vez em quando para entendermos que aquela viagem aconteceu no passado e assistir os vídeos gravados durante ela é uma maneira de voltar àqueles momentos, repassá-los, sentir saudade deles. Sabemos que, no momento da aventura entre pai e filha, o pai, prestes a completar 31 anos, não vive com a mãe e que separou aquele tempo para a filha. E acabam as informações. Para Wells, aquelas imagens, aquele “álbum de fotos” dão forma aos ecos da memória da personagem principal. Os motivos são menos importantes do que chegar até aquele momento, reapresentá-lo, revivê-lo, reconstruí-lo, resgatar algo que hoje não se tem mais. O brilho desse filme de estreia é como sua diretora faz para materializar esse mistério.

CHIKITOS 2022 (vencedores em negrito)

FILME DO ANO

Aftersun, Charlotte Wells
Bem-vindos de Novo, Marcos Yoshi
Boliche de Saturno, Patricia Mazuy
Crônica de uma Relação Passageira, Emmanuel Mouret
A Esposa de Tchaikovsky, Kirill Serebrennikov
Os Fabelmans, Steven Spielberg
Licorice Pizza, Paul Thomas Anderson
Não! Não Olhe!, Jordan Peele
Noites de Paris, Mikhaël Hers
The Souvenir: Part II, Joanna Hogg

DIREÇÃO

Boliche de Saturno, Patricia Mazuy
Crônica de uma Relação Passageira, Emmanuel Mouret
A Esposa de Tchaikovsky, Kirill Serebrennikov
Os Fabelmans, Steven Spielberg
Não! Não Olhe!, Jordan Peele
Noites de Paris, Mikhaël Hers
The Souvenir: Part II, Joanna Hogg

FILME DE ESTREIA

Aftersun, Charlotte Wells
Bem-vindos de Novo, Marcos Yoshi
Deadstream, Joseph Winter e Vanessa Winter
Faya Dayi, Jessica Beshir
As Fitas de Turismo de Denver, Mike Schwanke
Leonor Nunca Morrerá, Martika Ramirez Escobar
Pleasure, Ninja Thyberg

FILME BRASILEIRO

Bem-vindos de Novo, Marcos Yoshi
Filme Particular, Janaína Nagata
Marte Um, Gabriel Martins
Mato Seco em Chamas, Adirley Queirós e Joana Pimenta
Paloma, Marcelo Gomes
Paterno, Marcelo Lordello
A Viagem de Pedro, Laís Bodanzky

ANIMAÇÃO

Apollo 10 e Meio: Aventura na Era Espacial, Richard Linklater
Os Guardiões da Eternidade, Aristotelis Maragkos
Josee, the Tiger and the Fish, Kôtarô Tamura
Marcel the Shell with the Shoes On, Dean Fleischer-Camp
Pinóquio de Guillermo del Toro, Guillermo del Toro e Patrick McHale
Red: Crescer é uma Fera, Domee Shi
Salgueiros Cegos, Mulher Dormindo, Pierre Földes

DOCUMENTÁRIO

Ascensão, Jessica Kingdon
Até Sexta, Robinson, Mitra Farahani
Bem-vindos de Novo, Marcos Yoshi
Faya Dayi, Jessica Beshir
Filme Particular, Janaína Nagata
Vulcões: A Tragédia de Katia e Maurice Krafft, Sara Dosa
Woodlands Dark and Days Bewitched: A History of Folk Horror, Kier-La Janisse

CENA DO ANO

Aftersun, “Under Pressure”
Emergência, de cara no chão
Os Fabelmans, segredos de família
A Filha Perdida, o cinema
Marte Um, o sonho de Deivinho
Não! Não Olhe!, o chimpanzé
RRR, um contra todos

ROTEIRO ORIGINAL

Boliche de Saturno, Patricia Mazuy e Yves Thomas
Close, Lukas Dhont e Angelo Tijssens
Crônica de uma Relação Passageira, Emmanuel Mouret e Pierre Giraud
A Esposa de Tchaikovsky, Kirill Serebrennikov
Os Fabelmans, Steven Spielberg e Tony Kushner
Não! Não Olhe!, Jordan Peele
Nobody’s Hero, Alain Guiraudie

ROTEIRO ADAPTADO

O Acontecimento, Audrey Diwan e Marcia Romano
Confess, Fletch, Greg Mottola e Zev Borow
Emergência, KD Davila
Era Uma Vez um Gênio, George Miller e Augusta Gore
Pinóquio de Guillermo del Toro, Guillermo del Toro e Patrick McHale
Shin Ultraman, Hideaki Anno
The Souvenir: Part II, Joanna Hogg

ROTEIRO DE ESTREIA

Aftersun, Charlotte Wells
Faya Dayi, Jessica Beshir
A Filha Perdida, Maggie Gyllenhaal
Freda, Gessica Geneus
Funny Pages, Owen Kline
Leonor Nunca Morrerá, Martika Ramirez Escobar
Marcel the Shell with the Shoes On, Dean Fleischer-Camp, Jenny Slate e Nick Paley

ATOR

Aftersun, Paul Mescal
Os Banshees de Inisherin, Colin Farrell
Confess, Fletch, Jon Hamm
Crônica de uma Relação Passageira, Vincent Macaigne
Decisão de Partir, Park Hae-il
Nobody’s Hero, Jean-Charles Clichet
Old Henry, Tim Blake Nelson

ATRIZ

Contratempos, Laure Calamy
Crônica de uma Relação Passageira, Sandrine Kiberlain
A Filha Perdida, Olivia Colman
Leonor Nunca Morrerá, Sheila Francisco
Noites de Paris, Charlotte Gainsbourg
One Fine Morning, Léa Seydoux
Pearl, Mia Goth

ATOR COADJUVANTE

Os Banshees de Inisherin, Barry Keoghan
As Bestas, Luis Zahera
Emergência, RJ Cyler
Emily, Fionn Whitehead
Intolerance, Tôri Matsuzaka
Raging Fire, Nicholas Tse
Vengeance, Ashton Kutcher

ATRIZ COADJUVANTE

Crimes do Futuro, Kristen Stewart
Os Fabelmans, Michelle Williams
Intolerance, Shinobu Terajima
Marte Um, Rejane Faria
O Menu, Hong Chau
Não! Não Olhe!, Keke Palmer
Nobody’s Hero, Noémie Lvovsky

REVELAÇÃO

Os Fabelmans, Gabriel LaBelle
As Fitas de Turismo de Denver, Mike Schwanke
Licorice Pizza, Alana Haim
Licorice Pizza, Cooper Hoffman
Paloma, Kika Sena
Red Rocket, Suzanna Son
Serial Kelly, Igor de Araújo

PERFORMANCE INFANTIL

Aftersun, Frankie Corio
Armageddon Time, Banks Repeta
Close, Eden Dambrine
A Mulher Rei, Thuso Mbedu
Um Pequeno Grande Plano, Joseph Engel
Sempre Em Frente, Woody Norman
O Telefone Preto, Madeleine McGraw

ELENCO

Concorrência Oficial
Intolerance
Licorice Pizza
Marte Um
Nobody’s Hero
Noites de Paris
Você Tem Que Vir e Ver

FOTOGRAFIA

Batman, Greig Fraser
A Esposa de Tchaikovsky, Vladislav Opelyants
Os Fabelmans, Janusz Kaminski
Faya Dayi, Jessica Beshir
Nightsiren, Federico Cesca
Não! Não Olhe!, Hoyte van Hoytema
Skinamarink, Jamie McRae

MONTAGEM

Aftersun, Blair McClendon
Boliche de Saturno, Mathilde Muyard
Crônica de uma Relação Passageira, Martial Salomon
Não! Não Olhe!, Nicholas Monsour
Noites de Paris, Marion Monnier
Raging Fire, Curran Pang
The Souvenir: Part II, Helle le Fevre

DIREÇÃO DE ARTE

O Beco do Pesadelo, Tamara Deverell
Elvis, Catherine Martin e Karen Murphy
Era Uma Vez um Gênio, Roger Ford
A Esposa de Tchaikovsky, Vladislav Ogay
Os Fabelmans, Rick Carter
Licorice Pizza, Florencia Martin
Shin Ultraman, Yuji Hayashida e Eri Sakushima

FIGURINOS

O Beco do Pesadelo, Luis Sequeira
Corsage, Monika Buttinger
Elvis, Catherine Martin
Era Uma Vez um Gênio, Kym Barrett
A Esposa de Tchaikovsky, Dmitry Andreev
Geada de Netuno, Cedric Mizero
Licorice Pizza, Mark Bridges

MAQUIAGEM

A Avó
Coffin Homes
Crimes do Futuro
Era Uma Vez um Gênio
Pearl
The Sadness
Terrifier 2

MÚSICA

Batman, Michael Giacchino
Crimes do Futuro, Howard Shore
Decisão de Partir, Jo Yeong-wook
Era Uma Vez um Gênio, Junkie XL
Os Fabelmans, John Williams
Não! Não Olhe!, Michael Abels
Pinóquio de Guillermo del Toro, Alexandre Desplat

CANÇÃO

Faya Dayi, “Kenna Uumaa” (Mehandis Geleto)
Leonor Nunca Morrerá, “Ibon at Bala” (Alyana Cabral)
Pantera Negra: Wakanda para Sempre, “Lift me Up“ (Ludwig Göransson, Rihanna, Ryan Coogler e Tems)
Pinóquio de Guillermo del Toro, “Ciao Papa” (Alexandre Desplat)
RRR, “Naatu Naatu” (M. M. Keeravani e Chandrabose)
Ruído Branco, “new body rhumba” (LCD Soundsystem)
Shin Ultraman, “M87” (Kenshi Yonezu)

SOM

Avatar: O Caminho da Água
Batman
Elvis
A Esposa de Tchaikovsky
Raging Fire
Skinamarink
Top Gun: Maverick

EFEITOS VISUAIS

Avatar: O Caminho da Água
Batman
Doutor Estranho no Multiverso da Loucura
Era Uma Vez um Gênio
O Homem do Norte
Não! Não Olhe!
Shin Ultraman

Charlotte Wells é a primeira diretora estreante a ganhar “filme do ano” nestes 30 anos e a terceira mulher a levar o prêmio principal, depois de Sofia Coppola e Jane Campion. Mas “Aftersun” foi uma pancada e, embora eu tenha ficado bem dividido entre ele e o belíssimo “A Esposa de Tchaikovsky” na reta final, ganhou o filme que eu não estava esperando, que combina cinema, narrativa e emoção como poucos neste ano. “Aftersun” ainda levou os prêmios de filme de estreia, roteiro de estreia e cena do ano, a dança ao som de “Under Pressure”, categoria em que empatou em o brasileiro “Marte Um” e a cena em que Deivinho conta seu sonho para a irmã.

PRÊMIO ESPECIAL DO CHICO

Para a série “Noite Exterior”, de Marco Bellocchio, a grande peça política do audiovisual em 2022.

Monumental é uma boa palavra para descrever o que Marco Bellocchio faz em “Noite Exterior”, série de mais de 5 horas que dirigiu sobre o sequestro de Aldo Moro, um dis eventos políticos mais importantes da história da Itália. Não é a primeira vez que o diretor falar sobre esse assunto: em “Bom Dia, Noite”, ela retrata o caso, com um enfoque mais específico no confinamento de Moro, que era presidente da Democracia Cristã, partido que comandava o país na época em que foi raptado pelos revolucionários do grupo Brigada Vermelha.

A série amplia o tema de todas as formas, inclusive reconstruindo o cenário político da época e abordando o acontecimento por um prisma diferente em cada um dos seis episódios. É um estudo detalhado do jogo do poder e de como as peças se reorganizam para legitimar esse poder quando um evento fora da agenda surge. Bellocchio entende a política italiana como um organismo vivo que celebra seus personagens somente quando eles servem a seu propósito. Aos 83 anos, o cineasta resgata e renova o thriller político, uma das maiores tradições do audiovisual italiano.

Com tempo de sobra para reinterpretar os bastidores do sequestro de Aldo Moro, Bellocchio costura um novelão, no mrlhor sentido, de intrigas palacianas dedicando bastante espaço para construir os personagens centrais da história. Os episódios têm como protagonistas Moro, seu principal ministro, o Papa Paulo VI, uma das sequestradoras e a mulher de Moro. Cada um representa não apenas um olhar para os fatos, mas uma análise sofisticada do que motivou e estava por trás da condução do processo.

Bellocchio, que costuma dirigir grandes interpretações, aqui se apóia num elenco impecável, começando pela lindíssima performance de Fabrizio Gifuni no papel principal. Ele traduz o tom conciliador de Moro com um carisma especial, acertando nos mínimos detalhes para que o espectador entenda logo o que aquele homem representava para aquele momento político. A maquiagem pesada nem incomoda diante da qualidade das interpretações de Fausto Russo Alesi e Margherita Buy, uma das grandes atrizes dos últimos 20 anos aqui em mais um momento inspirador. Alesi dá uma complexidade misteriosa a Francesco Cossiga, herdeiro político de Moro. Toni Servillo sempre muito bem faz um Papa atormentado.

O estudo de Bellocchio sobre o caso Moro vai muito além do acontecimento em si. “Noite Exterior” investiga a própria natureza da Itália em si, onde a luta ideológica e de classes parece se confundir com a própria história do país. Analisa os limites tênues entre política e religião no país que tem em seu seio o mais importante estado religioso do mundo e ainda mostra os ecos das práticas imperiais que se aproveitavam dos eventos trágicos para operar novas arquiteturas de poder. Bellocchio olha, cínico e muito preciso, para como o sequestro de Moro nasce com um objetivo político específico e é assimilado pelo sistema para se tornar um grande evento de mídia que pudesse legitimar a velha disputa “democrática” pelo trono.

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