Cinema doméstico
Crimes em Wonderland começa até bem, inventivo na linguagem, mas depois se perde na própria brincadeira, no exagero na manipulação da câmera e na montagem espertinha. Existe um clima nostálgico, muito bem escorado na trilha sonora do Cliff Martinez, completamente retrô, e na seleção de belos espécimes do rock?n?roll. Do elenco, o Dylan McDermott me supreendeu, bom ator. Mas existem bons momentos da Kate Bosworth, nossa nova Lois Lane, e do Josh Lucas, raivoso.
A versão de 1931 de O Médico e o Monstro pode até não ser um grande filme, mas imprime ao Mr. Hyde uma amoralidade tão complexa que sepulta certas ingenuidades em sua construção e maquiagem datada, que não assusta mais. Rouben Mamoulian acerta porque transforma Fredric March num descarado, completamente livre de convenções sociais. O ator ganhou até o Oscar. O filme também é corajoso, fazendo as transformações em frente às câmeras, num trabalho ousado do fotógrafo Karl Struss.
E para minha surpresa, Quero Ser John Makovich resistiu bem a uma revisão, cinco anos depois. Catherine Keener ainda está maravilhosa e Charlie Kaufman (ou seria Spike Jonze?) tem o mérito de dar consistência ao absurdo do texto. A brincadeira não envelheceu. Pela primeira vez, percebi melhor a belíssima trilha do Carter Burwell, que tem o tom exato do filme, dispersa, etérea, away. Eu sei que muita gente acha que a grande cena do filme é o “Malkovich, Malkovich”, mas a minha favorita continua sendo o flashback do chimpanzé.