4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias poderia, muito bem, ser a terceira Palma de Ouro em Cannes dos irmãos Dardenne. A narrativa e a concepção visual do filme são parentes de primeira geração do cinema feito pela dupla belga de Rosetta e A Criança, um cinema de investigação do humano, que sempre busca transbordar os instintos mais primários dos personagens.
O curioso sobre o longa de Cristian Mungiu é que, ao mesmo tempo em que trabalha nesse patamar interior, ele sempre se aproxima de uma espécie de lição do moral sobre o tema. O filme se equilibra nesse dueto inusitado desde que a situação central se estabelece – por sinal, quem chegar ao cinema sem ter muita informação sobre o filme vai aproveitá-lo bem mais – e isso só acontece depois de uns belos 40 minutos de filme.
Como crônica social, crítica de costumes e investigação de psiquês, o filme é quase uma experiência de terror, com cenas trabalhadas para incomodar – a imagem fixa no banheiro é dolorida – e deixar o espectador tenso – a saga que se segue à imagem. A questão é que, por outro lado, esse tratamento pode ser encarado como um panfleto bem arquitetado como arma contra as práticas das protagonistas. Nessa indefinição, o filme acaba e lança muitas perguntas. No fim, isso deve ser bom. Ou não?
4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias ½
[4 Luni, 3 Saptamani si 2 Zile, Cristian Mungiu, 2007]