Oscar

Existe uma certa esquizofrenia na maneira como a maioria das pessoas lida com o Oscar. É extremamente comum ouvir críticas ao prêmio por sua arbitrariedade, caretice ou suas escolhas erradas. Mas talvez seja ainda mais costumeiro escutar alguém dizer que “o filme A é muito bom, mas não para ganhar o Oscar”. Ou seja, muitas vezes as mesmas pessoas que criticam o prêmio da Academia acreditam, lá no fundo, que ele é mesmo o reconhecimento máximo do cinema. Vejamos bem, o Oscar é um prêmio norte-americano, criado nos anos 1920 para dar um certo status a uma arte que era considerada mera diversão. Ajudou a dar estofo para o cinema, mas nunca deixou de ser uma láurea da indústria. E da indústria norte-americana.

Faz-se muitas listas com as injustiças do Oscar como se o prêmio fosse resultado dos méritos dos candidatos e não o ápice de um imenso processo – cada vez mais de conhecimento público – que envolve muitos outros elementos (festas para lançar os filmes, anúncios, envio de DVDs para quem vota na Academia, sessões especiais, prêmios de críticos e da indústria). É muito ingênuo falar do “absurdo” do filme x perder pro filme y quando na corrida daquele ano, no contexto daquele ano, o filme x não tinha a menor chance de ganhar. Cada edição do Oscar reflete os doze meses anteriores à festa e, muitas vezes, esses doze meses negam o ano anterior.

O Oscar não evolui ou involui em suas escolhas como muita gente quer determinar. Ele acerta ou erra (e isso é bem subjetivo) a cada ano. Anna Paquin ganhou seu primeiro Oscar aos 11 anos, enquanto Peter O’Toole e Richard Burton foram indicados várias vezes ao longo de suas longas carreiras e nunca levaram um prêmio. Nada disso foi planejado. Talvez a Academia apenas tenha achado que esses dois grandes atores nunca foram os melhores em cada ano em que estiveram na disputa. Do mesmo jeito que Meryl Streep foi indicada 19 vezes não apenas porque ela é uma ótima atriz, mas porque a própria lenda que se criou em torno de sua história no Oscar deixa mais fácil para os integrantes da Academia, gente que ao contrário dos críticos não é paga para ver filmes, sempre a considerarem já que ela sempre está ali, dando sopa.

Os prêmios dos críticos que vêm antes do Oscar são muito importantes porque esses, sim, recebem para ver filmes e dizer que qualidades ou não vêem neles. E ajudam a nortear quem está ou não valendo naquele ano. Só que ao longo dos anos, essas premiações criam suas próprias histórias e as “injustiças” de nunca terem premiado esse ou aquele ator no Oscar nem sempre se repetem nos outros prêmios, que têm outras dinâmicas. E aí, as influências mudam. E a Academia decide por si. Quando alguém ganha um Oscar pelo “conjunto da obra”, como deve acontecer com a Julianne Moore neste ano, sem demérito porque é uma boa interpretação, talvez conte mais o fato dela, uma atriz respeitadíssima, ter sido indicada quatro vezes antes e nunca ter ganho do que sua performance em si. Curioso que Julianne deve ganhar e todo mundo provavelmente vai achar merecido, inclusive eu, pelas razões erradas: ela é uma grande atriz e merece ter um Oscar, independentemente do papel, do filme.

Então, é meio maluco que ao mesmo tempo em que se critique o Oscar pelo conformismo, tradicionalismo, intervenção dos estúdios, campanhas de marketing acima da qualidade dos concorrentes, cite-se essas justiças e injustiças como se o Oscar tivesse acertado ou falhado nesses momentos. Afinal, o Oscar é normalmente justo e erra às vezes, justificando listas de injustiças? Ou o Oscar é um prêmio conceitualmente equivocado que de vez em quando premia quem realmente merece? Falta uma coerência aí. Eu realmente espero que Boyhood ganhe o Oscar porque eu gosto muito do filme e ficaria feliz em vê-lo premiado. Mas entendo se Birdman vencer porque conversa mais com anseios da indústria de cinema. Só não vou sair falando da grande injustiça que a Academia cometeu porque as coisas não são tão simples assim.

Comentários

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8 comentários sobre “A esquizofrenia do Oscar”

  1. Bradley Cooper não merecia sequer estar concorrendo ao Oscar, ator muito fraco apesar de malhar tanto.

    Acho Juliane Moore muito careteira está sempre com a mesma interpretação, compare a atuação dela em Jurassic Park e Hanibal e verá que não tem diferença alguma é como se fosse a mesma personagem vivendo situações diferentes em dois filmes.

    Da mesma forma Michael Keaton e Emma Stone também não tiveram interpretações sequer para concorrer a um Oscar, fraquíssimos.

    Para melhor ator Benedict Cumberbatch foi o melhor disparado e dos filmes achei Selma o mais emocionante. No mais, torço para mais uma vitória de Meryl Streep 🙂

  2. Excelente artigo, fato é que toda a avaliação humana é subjetiva uma vez que contra ela depõe o componente emocional. Detestei Birdman, filme chato, cansativo, drama psicológico que não evolui na narrativa, a única surpresa foi não ter dormido no sistema. Me decepcionei com Selma, falha como biografia, falha como exploração de um momento histórico, falha como filme político. Teoria de Tudo cumpre o seu papel, lindo, previsível, atuação espetacular do inglês, mas não tira o fôlego. Whiplash é comum, interessante, mas comum. Sniper Americano é muito bom, tenso e Bradley está com uma atuação impecável, mas cheio de incoerências históricas e sem dizer se veio para retratar um herói ou as consequências cruéis e ocultas de uma guerra. Jogos da Imitação resgata uma história brilhante mas peca na falta de foco, você o termina e não sabe se o analisa sob a ótica da genialidade, da personalidade difícil, da conquista, da guerra, do romance ou do homossexualismo, O Abutre é animal, roteiro impecável. O Grande Hotel Budapeste e Boyhood não conseguiram me convencer a assistir e olha que vou ao cinema três vezes na semana, isso só me leva a reforçar que tudo é subjetivo.

  3. Eu entendo perfeitamente, quando existe uma concorrência acirrada, e talvez “o meu” filme favorito não ganhe, como por exemplo Blade Runner, Antes do Amanhecer, Central do Brasil e Nova Rainhas. Isso é bem diferente, de quando um filme é aclamado por crítica e público, e se faz prevalecer um mero capricho de ser do contra. Tempos modernos, Cidadão Kane, 2001: Uma Odisseia no Espaço, Cantando na Chuva, O Resgate do Soldado Ryan, Laranja Mecânica, Deixa ela entrar, e o genial Alfred Hitchcock, acho que são os maiores exemplos disso.

    Quanto ao Oscar desse ano… sinceramente? Estou bem indiferente. Acho tudo muito fraco. Alias, já faz um bom tempo que tenho achado isso, e do cinema mundial mesmo. Mas aí é só uma questão de gosto.

  4. Prêmio legal mesmo é o Globo de Ouro, dado por quem efetivamente vê os filmes e sempre procura laurear o novo. E por ser dado pela imprensa ‘estrangeira’, não se deixa levar pelo que a indústria dita.
    Mas o Oscar tem história, glamour, o que os americanos têm de mais próximo da nobreza. Não à toa, o tapete vermelho par cê chamar bem mais a atenção do que os filmes.
    Vamos nos divertir.

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