O cinema pode ser bem mais simples do que a gente imagina e, muitas vezes, cobrar de um filme intenções que ele nunca teve revela muito mais quem não entrou na brincadeira do que problemas concretos na obra. Numa época em que o número de reboots, continuações e spin offs é maior do que nunca, nosso olhar parece condicionado a esperar o pior desses roteiros poucos originais. Mas isso nem sempre é verdade. Jurassic World não passa de um remake não assumido – e em escala maior – do neoclássico Jurassic Park. E é exatamente essa suposta falta de imaginação que deixa o filme tão atraente.
Colin Trevorrow, que assina a direção e a coautoria do roteiro, parece mais do que tudo um devotado fã do longa de Steven Spielberg. Tanto que praticamente clona, em maior ou menor grau, cada aspecto da história do filme original, reimaginando todas as principais cenas, do bote do T-Rex em cima das crianças até a sequência final, na parte construída do parque. O conjunto de referências, incluindo o reaproveitamento de uma personagem secundária e a intenção de trazer os principais protagonistas animais do primeiro longa para o centro desse novo filme, fazem de Jurassic World uma obra de reverência explícita.
Assumir-se como filme homenagem é o grande trunfo do longa de Trevorrow, que recicla inclusive a premissa mais básica proposta por Spielberg, que há 22 anos já questionava os limites éticos do uso da tecnologia e reavivava o velho dilema do homem que tenta ser Deus. Essa honestidade do novo longa, que renova os votos a essa ingenuidade tão essencialmente spielberguiana, e que ainda tem como protagonistas uma dupla de irmãos que parece saída diretamente de um filme dos anos 80 (Ty Simpkins está particularmente adorável) e um casal de namoradinhos que vive brigando (Chris Pratt e Bryce Dallas Howard em ótima forma), no melhor estilo dos filmes de aventura de “antigamente”, deixa muito claro que nostalgia é a matéria-prima aqui.
E olha que há algumas boas ideias novas, como o ataque dos “pássaros” no melhor estilo hitchcockiano, com direito a mortes que talvez não estivessem num filme de Spielberg. Mas o que conta mais é ouvir o tema do John Williams pra voltar duas décadas atrás e se divertir pra caramba com T-Rexes e velociraptors voltando à ativa com força total. E qual é o problema em querer lembrar dos velhos tempos, não é? Os U$ 500 milhões de dólares que o filme fez no seu fim de semana de abertura provam que muita gente está disposta a abraçar a memória. Então, vamos relaxar. Saudosismo e culpa não precisam andar de mãos dadas.
Jurassic World – O Mundo dos Dinossauros ½
[Jurassic World, Colin Trevorrow, 2015]
P.S.: meu sobrinho de seis anos adorou o filme. Eu acho que ele conversa muito bem com as novas gerações.
Não vejo problemas em um filme se assumir reverente. Mas um pouco de ousadia nunca fez mal a ninguém. Não achei Jurassic World ruim. Só achei um pouco aquém. E o Trevorrow pode até amar o filme original, mas não conseguiu exibir nem metade do timing para o suspense que tanto fez diferença nas mãos o Spielberg.
Assisti hoje em 3D e adorei. Muito divertido. Nem lembrei dos 2 anteriores.
Diversão, essa é a proposta do filme. Não é porque algumas cenas lembram o primeiro filme que ele perde a graça, bem pelo contrário.
Concordo totalmente com a opinião do “filmesdochico”.
A junção dos Velociraptors na história é bela, incomum e, logicamente uma ficção deliciosa. Quem não gostaria que fosse assim?
Tenho 48 anos e me diverti muito, ainda mais quando os meninos “ressuscitaram” o velho jeep. Abraços.