Todas as apostas de O Último Cine Drive-in, longa de estreia de Iberê Carvalho, parecem bem intencionadas, mas acontecem em terreno bem seguro. É mais um filme sobre cinema, mais especificamente sobre quem defende a memória física do cinema numa época em que os antigos espaços parecem não mais achar lugar num mundo de especulação imobiliária e avanços tecnológicos. É também uma história de despedida, tanto para o lugar como para uma das personagens. São duas fórmulas de trabalhar com a nostalgia, que encontram num roteiro simples uma forma de validar sua autenticidade.
A história é uma ficção, mas se passa num lugar real, que existe em Brasília – e é, para o bem e para o mal, totalmente contaminada por ele, que talvez realmente seja o último cinema drive-in do país e foi tema de uma bela reportagem aqui. A influência do cenário vai além dos elementos presentes no argumento, mas se estende pela estética do filme. É bem natural que a fotografia tente explorar os ângulos daquele pequeno pedaço da cidade projetada por Oscar Niemeyer, mas o próprio fato das locações serem bastante resumidas prejudica a pertinência desta opção.
A trilha sonora, composta em parceria pelo corroteirista do filme, emula os westerns de Ennio Morricone, o que tanto serve para novamente remeter à aridez do lugar quanto como referência a Cinema Paradiso, longa parece se inspirar este projeto e que teve a música assinada pelo maestro italiano. As composições servem de moldura para a personagem errática de Breno Nina, que vive entre garantir companhia para a mãe doente e retomar a relação tumultuada com o pai. O que transforma o filme apenas num filme simpático é o roteiro que nunca sabe bem como se livrar dos lugares comuns nem parece bem amarrado o suficiente para carregar os dramas das personagens.
Sob todos os prismas, o filme “dá conta”, mas nunca acontece realmente. E o excesso de referências incomoda: de Curtindo a Vida Adoidado até As Invasões Bárbaras. Numa cena, o cinema projeta Central do Brasil, que tem Othon Bastos e Rita Assemany no elenco. A presença do ator num dos papeis centrais da trama reforça o tom de memorial do projeto que mira na singeleza para criar um elo emocional com o espectador, mas é Rita Assemany, num participação pequena – mas fundamental – a melhor coisa do filme: que atriz incrível, capaz de jogar o trivial para um outro nível. Pena que o texto bem intencionado não exija mais dela.
O Último Cine Drive-in
[O Último Cine Drive-in, Iberê Carvalho, 2014]