Coração de Cachorro
[Heart of a Dog, Laurie Anderson, 2015]
Depois de uma década sem incursões no mundo do audiovisual, a multi-artista Laurie Anderson surpreende, aos 68 anos, com um documentário-soneto sobre o mundo, a vida, a morte e uma cadelinha chamada Lollabelle. Uma costura difícil, mas que a compositora de O Superman, conduz com bastante graça, anotando observações sobre tudo o que está a sua volta. O documentário em primeira pessoa tem ecos do trabalho de Jonas Mekas, talvez sem o mesmo tom pitoresco, mas divaga igualmente para os assuntos mais abstratos e mais distantes do que vinha imediatamente antes na linha temporal do filme, que dialoga na mesma medida com a vídeo-arte que Laurie experimentou nos anos 80 e 90. Animações, colagens, texturas mostram uma preocupação em fazer um trabalho sofisticado que poderia fazer sentido apenas para Laurie, mas que terminam criando uma fartura de pontos de identificação com o espectador. Embora utilize essa espécie de diário para abrir o coração para falar de sua intimidade muitas vezes, incluindo sua relação distante com a mãe, a diretora nunca se aproveita da imagem de seu companheiro de muito tempo, Lou Reed, que morreu há dois anos e que dividiu a vida com Laurie até os últimos dias.