Boi Neon ½
[Boi Neon, Gabriel Mascaro, 2015]
Num bate-papo pós-sessão, Gabriel Mascaro disse que um dos fundamentos do filme era criar expectativas para depois quebrá-las. Embora talvez esse não deve ser um objetivo, mas uma consequência, está nessa frustração de expectativas um dos maiores trunfos de Boi Neon, segunda ficção propriamente dita de Gabriel Mascaro. Propriamente dita porque seus documentários sempre circularam pela intersecção entre os dois gêneros, o que trouxe para seus roteiros ficcionais uma naturalidade rara de se encontrar.
A primeira grande negação de Mascaro é com o Nordestes idealizado. O filme nunca coloca seca, miséria ou a vida “pitoresca” do nordestino no centro da trama. Pelo contrário, isso praticamente não existe no longa, que se move em torno da personagem principal, um vaqueiro que sonha em ser costureiro, sem dar muita bola para as explicações ou os desdobramentos dessa situação. Iremar nunca tem a orientação sexual questionada. Por sinal, sua masculinidade é reforçada em vários momentos, seja na cena de sexo, seja na aliviada matinal, seja no banho coletivo.
O diretor faz um filme quente, vivo, em todos os sentidos. Mascaro examina o corpo de seu protagonista da mesma maneira que ele utiliza os corpos dos manequins que coleta para vestir suas criações. Juliano Cazarré está impecável: bruto e delicado ao mesmo tempo, com um sotaque pernambucano irrepreensível. Virou mesmo um grande ator. Ao seu lado, Maeve Jinkings interpreta uma caminhoneira sem trejeitos, discreta.
O elo mais fraco do elenco é Vinícius Oliveira, que embora se esforce como o silencioso Junior, o vaqueiro que não se descuida das longas madeixas, raramente acerta no acento e fica apático durante a maior parte do filme. A quimíca entre o trio de atores profissionais com os dos vaqueiros que compõem o time principal de personagens é essencial para que Boi Neon funcione como um recorte de uma região que raramente consegue ser representada com tanto desprendimento.
Para um filme tão rido e teto é curto e raso. O filme merecia uma análise mais detida. Vinicius de Oliveira tem participação pequena e mal abre a boca, enquanto a personagem feminina de maior destaque é a garota (numa interpretação maravilhosa)…