Hong Sang-soo não se cansa de emular Woody Allen, inclusive com a câmera variando para lugares inusitados como a copa de uma árvore seca depois que é abandonada pelo ator, que sai de quadro. De Allen, o coreano também rouba o improviso das situações e um certo descaso com as explicações: as personagens surgem e desaparecem meio do nada e o que é dito numa cena é desmentido na outra sem que ninguém ligue muito pra isso. Posto isso, Certo Agora, Errado Antes, vencedor do Leopardo de Ouro no Festival de Locarno, guarda muitas semelhanças com o filme anterior do cineasta, Montanha da Liberdade, também na seleção do Festival do Rio. Todos os longas de Hong Sang-Soo são muito parecidos entre si, mas o fato dos dois filmes terem um casal de protagonistas errando pela cidade – que parece a mesma – e passando por cafés pode incomodar quem assiste aos dois títulos num intervalo pequeno de tempo. Mas a impressão muda um pouco no decorrer deste novo filme que vai crescendo aos poucos e se transforma em dois. O casal de protagonista, Jae-yeong Jeong e Min-hee Kim, não têm a mesma química dos protagonistas do filme anterior, mas funcionam bem. A grande sacada de Sang-soo é a brincadeira com a estrutura, que já parecia super bem resolvida em Montanha da Liberdade, onde uma cena em que papéis se embaralharam literalmente muda a cronologia do próprio longa. Aqui, as coisas parecem mais simples. Duas linhas narrativas, como o próprio Allen já fez em Melinda e Melinda, mas desta vez bastante separadas uma da outra. E o que parecia simples ganha complexidade aos poucos, com o humor de Sang-soo valorizando as personagens e dando a quem assiste ao filme um motivo para se apegar àquela história que se reiventou.
Certo Agora, Errado Antes
[Ji-geum-eun-mat-go-geu-ddae-neun-teul-li-da, Hong Sang-soo, 2015]