A Jovem Rainha

O finlandês Mika Kaurismaki morou no Brasil durante muito tempo, conhece bem a língua portuguesa e reclamou da tradução para um de seus últimos filmes, A Jovem Rainha, em que biografa a polêmica e extravagante Kristina, da Suécia, quando o longa foi exibido na Mostra de Cinema de São Paulo. No original, o filme se chama The Girl King, algo como O Rei Menina, que comporta bem melhor o espírito de sua protagonista revolucionária, já vivida por Greta Garbo no clássico Rainha Christina. Mesmo com a reclamação, o longa foi lançado em circuito com o mesmo título do festival. A tradução não ajuda, mas a história complexa da personagem é interessante por si só. Ela foi nomeada monarca aos seis anos, passou outros dois tendo que dar boa noite ao pai embalsamado por uma mãe louca, foi criada como um menino, se apaixonou por livros, filósofos, pensadores e por uma mulher. E ainda desafiou o luteranismo, religião oficial de seu país. Diante da história de uma mulher de tantas paixões febris, Kaurismaki parece também ter incorporado uma possível herança de sua passagem pelo Brasil, a dramaturgia televisiva que assistimos no filme. A Jovem Rainha é um novelão histórico, artificial, fake, que potencializa as conspirações de corredor, os relacionamentos proibidos e as reviravoltas com closes fechados, interpretações afetadas, flashbacks explicativos e outra seleção de truques para dar volume ao suspense. Malin Buska encarna a protagonista com muita propriedade, embarcando na ideia de Kaurismaki de transformar Kristina exatamente numa personagem. Nas cenas em que faz discursos para a corte, Buska declama suas falas quase que como um padre faz sua ladainha dominical. Combina perfeitamente com o que o filme pretende para sua rainha. O resultado pode parecer estranho ou de má qualidade, mas joga o filme, a trama e a personagem num plano de ficção eterno, como se ela morasse para sempre numa encenação ou num livro de história.

A Jovem Rainha EstrelinhaEstrelinhaEstrelinha
[The Girl King, Mika Kaurismaki, 2015]

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