Baby Driver levou Edgar Wright até um ponto onde o cineasta ainda não tinha ido em sua carreira que surpreendentemente já tem mais de duas décadas. A maneira como ele dirige as várias cenas de perseguição do novo filme mostra que o diretor mudou de fase. O autor cujo forte, até então, parecia estar nas ideias que apresentava em seus roteiros finalmente conseguiu levar o humor, as piadas, a cinefilia de suas combinações de gêneros cinematográficos para além do texto. Agora, todo o acervo de referências pop de Wright ocupa a própria estrutura do filme, que, sem ser necessariamente uma comédia, sabe rir de si mesmo. Mas com seriedade porque seu diretor nunca deixa de acreditar em seus personagens algo caricatos e em sua história pulp.
Como seu protagonista, Wright pisa forte no acelerador, cria um de seus melhores personagens, estabelece uma relação única – cheia de referências – entre roteiro e música, música e montagem, e montagem e roteiro para costurar uma nova grande história de amor em Atlanta, palco da maior das histórias de amor, já diria Scarlett O’Hara. Para aliviar o ruído que carrega nos ouvidos desde um acidente de carro, Baby – um jovem que trabalha como motorista de assaltos para pagar uma dívida com um bandido – nunca tira os fones do ipod, lotados de músicas pop. A partir desta sinopse simples, Wright faz seu filme mais cinematográfico.
Pode-se dizer que cada música ouvida por Baby ganha um clipe em forma de cena de ação, mas a verdade é que ao determinar o ritmo das sequências de fuga a partir da canção escolhida pelo protagonista Wright confecciona o conceito do longa, que se renova a cada dedo no play. A dupla de montadores, a mesma que editou os últimos dois filmes do diretor, encontra o timing perfeito para que a história se desenvolva no intervalo entre as cenas de ação, sejam de carro, sejam a pé. Para funcionar, Wright precisava de um ator que traduzisse a energia (e também o lado misterioso) do personagem. E Ansel Elgort cai como uma luva para os objetivos do diretor.
Baby não é um personagem raso. Ele é o bom garoto que se envolveu com o crime e isso custa a ele bastante, inclusive a necessidade de dar adeus a quem ele ama e a mesmo a sua inocência. Wright não cria um conto de fadas porque seus personagens são estereótipos. Ele leva as escolhas do protagonista até a última consequência, o que dá uma boa ideia da maneira séria com que ele enxerga seus personagens. O carisma de Elgort (e a química com Lily James) ajuda Baby a fazer todas as curvas que precisa num roteiro que, olhem outra vez, dribla soluções fáceis embora pareça não sair da pista de corrida. Essa lovestory dos tempos atuais, mas com um pé no retrô, entra fácil, fácil na lista de melhores filmes do ano.
Em Ritmo de Fuga
[Baby Driver, Edgar Wright, 2017]
Olá Chico! Parabéns pela crítica. Este filme me lembrou bastante “Drive”, pelo romance principal (que também não cai no piegas), pelas cenas violentas e, principalmente, pela ótima utilização da trilha sonora. E também vejo ambos os filmes como um certo tipo de homenagem (“Drive” aos anos 80, “Baby Driver” aos gênero de fugas e perseguições). “Drive” teve mais peso na construção dos personagens. Porém eu, que tenho uma formação musical, achei fascinante como “Baby Driver” sincroniza TODOS os sons com as ações exibidas na tela. Além disso, tem bons alívios cômicos. Edgar Wright parece ter muito futuro!