Em Paris

Em Paris – Christophe Honoré

O último fim de semana do ano trouxe aos cinemas um dos melhores filmes de 2007. Em Paris, terceiro longa-metragem do francês Christophe Honoré, é uma declaração de amor. Ou várias. Não se deixe enganar pelos primeiros minutos do filme, que mostram o fim de um relacionamento. A abertura incômoda é apenas a justificativa para o que vem a seguir: uma linda homenagem à Nouvelle Vague de François Truffaut, na forma da história de dois irmãos.

Paul (o ótimo Romain Duris) acabou de sair de um casamento. Romântico, não sabe lidar com a perda e a saudade e termina voltando para a casa do pai (um Guy Marchand adorável), o chefe de família tão amoroso quanto desajeitado em demonstrar seu amor. Lá, Paul passa a dividir o teto com seu irmão Jonathan (o inspirado Louis Garrel), a melhor tradução para a expressão ‘alma livre’: estudante relaxado, filho desleixado, amante insaciável.

A tristeza de Paul contrasta com a alegria de Jonathan. No entanto, do meio de sua aparente superficialidade, este último resolve fazer de tudo para resgatar o irmão de seu incômodo sentimental. É aí que o diretor estabelece o amor incondicional entre os dois, o que move todo o filme. Mas não há nada de convencional nesta história. Jonathan resolve convidar Paul a sair pelas ruas de Paris, mas vai sozinho. Apesar disso, o diretor sabe mostrar, nesta distância, a forte relação entre os irmãos.

Em Paris

Christophe Honoré fez um filme extremamente delicado, mas completamente masculino, modalidades difíceis de se conciliar. Em Paris é sobre as relações do homem (ou dos homens) entre si e com as curvas da vida. Sobre as formas de se demonstrar carinho em família. Sobre parceria e cumplicidade. Ao longo de toda sua duração, as mulheres, sem que isso nunca seja depreciativo, são meras coadjuvantes. O que importa ao filme são os personagens masculinos.

Para inspirar sua jornada pela família, Honoré bebeu claramente da fonte das deliciosas comédias de François Truffaut, como Beijos Proibidos. O Jonathan de Louis Garrel, por sinal, parece uma homenagem a Antoine Doinel, personagem que protagoniza este longa e mais outros quatro do mestre francês. A cena em que os dois irmãos lêem um livro da época em que eram crianças está entre as cenas mais bonitas do ano. Nem o inusitado dueto musical ao telefone consegue ser melhor.

Em Paris é o encontro mais perfeito entre a leveza da forma e a profundidade da palavra.

Zodíaco – David Fincher
Antes que o Diabo Saiba que Você Está Morto – Sidney Lumet
Cão Sem Dono – Beto Brant e Renato Ciasca
Santiago – João Moreira Salles

Comentários

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4 comentários sobre “Frankie 2007 – filme do ano”

  1. Garrel e Dunst me surpreenderam bastante na escolha das categorias principais. Adorei ver o comeback de ZODÍACO… realmente, o filme cresce a cada dia que me lembro dele. Adoro suas listinhas, mesmo odiando o tenebroso SANTIAGO (olha minha falta de respeito). Mal posso esperar para ver ANTES QUE O DIABO e A QUESTÃO HUMANA. E viva o cinema… do chico.

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