Mistérios da Carne, de Gregg Araki.
Há alguma poesia em mais uma tentativa de mergulho de Araki no quê marginal das pessoas comuns. A melancolia que o diretor empresta a suas personagens diferentes parece legítima, mas existe um hiato quando a questão é o que dizer. O mistério proposto pela trama é o que de menos importa. É o caminho para chegar na sua solução que revela os processos íntimos dos dois protagonistas.
A Criança, de Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne.
Os Dardenne têm um talento inegável para filmar o fatalismo, a tragédia, a amoralidade. A questão talvez seja que seu cinema imediato, seu ultra-realismo siga uma fórmula que está cada vez mais desgastada. A Criança, como os outros títulos da carreira da dupla, persegue o confrontamento entre o homem e o inevitável, mas desta vez não há a mesma tristeza pelo conformismo que em Rosetta (1999), de longe, o melhor e mais redondo filme da dupla. O drama não parece mais tão urgente, as personagens parecem presas a um modelo cansado de marginalidade (leia-se: para personagens à margem e não, bandidos); as idéias já não são mais tão fortes.
Tirando o Véu, de Angelina Maccarone.
Drama econômico que, tirando algumas boas idéias (de amarração, sobretudo), é filmado de maneira bem convencional, com direito a alguns clichês cansativos. Há uma idéia bem maniqueísta de como “o inimigo” deve ser: amoral, agressivo física ou verbalmente. O melhor é não ressaltar o “exotismo” da protagonista iraniana. Visto na FAAP, na companhia do Marcelo Valletta e da Ana Paul, que na noite anterior, além da cerveja e do caldinho, me proporcionaram ver o belíssimo A Palavra (1955), do Carl Dreyer, e dois curtas raros: Film (1965), de Alan Schneider, único filme escrito pelo Beckett, último trabalho do Buster Keaton, e Le Gros et le Maigre (1961), um dos primeiros Polanski.
Eu não tinha gostado da versão curta de “A Margem da Imagem”, mas este “Do Luto à Luta” é um avanço. Ouvi dizer que o das parteiras é bom, também.
Te vejo em Eleição Chico amanha, já está comprado, não tem furo hehehe.
Adorei rever você, Chico! Ah, e meu pé frio pra filmes da mostra se confirmou na sessão seguinte: um filmeco alemão sobre nazismo (sim, ainda).
Chico, vi um filme muito bom hoje, “Allegro”, da Dinamarca (uma mistura de Kafka com “Stalker” e um diretor japonês cujo nome não me lembro agora). Falando na Jutlândia, seria legal ler um texto seu sobre o filme do Dreyer.
Tb adorei, Ana.
Quanto ao Dreyer, vou tentar escrever, mas não prometo pq tem muito filme ressonando na minha cebcinha…
Morcazel = bom, Marcelo? Pra vc ver como as coisas são surpreendentes…
Programação:
Terça, 1
Memórias Ocultas (14h; Reserva Cultural)
Humilhação (18h10; Vitrine 1)
Eleição (19h55; Arteplex 2)
Quarta, 2:
Reis e Rainha (13; Arteplex 1)
Batalha no Céu (20h10; Cinesesc)
E mais alguma coisa no meio disso tudo… ou não.
Sério que o documentário do Mocarzel é bom?
O da noite foi de um suíço-alemão (de Berna) bem maluco, um gonzo-movie com pessoas interpretando elas próprias, o diretor inclusive entra na história. Bem esquisito. Já os de ontem foram ótimos, além deste dinamarquês teve o documentário do Mocarzel sobre Síndrome de Down, que é bem bom.