Primeiro, temos Harry. Ora, Harry é o Superman – ou alguém não percebeu? Ele é o cara íntegro, deslocado da família, cheio de poderes, mas mesmo inocente, completamente responsável no uso deles. Um mauricinho para muita gente já que ele é tão certinho que não comete faltas muito graves. Mas Harry tem, mal comparando, o mesmo peso que o Superman tem. Ele precisa ser certo porque, quer ele queira ou não, ele é o exemplo, uma espécie de líder natural. E ao mesmo tempo, Harry é uma criança. Ou melhor: um adolescente… crescendo, descobrindo o mundo. Claro que o mundo de Harry é bem mais legal do que o dos adolescentes da idade dele. Ele voa e há dragões. E há a magia. E Harry, como o Superman que é, precisa liderar, estar à frente, ser herói. E ainda ser criança, ser adolescente, descobrir como se convida a garota que ele achou bonita para ir ao baile. A vida de Harry não é fácil.
Tem também o Ronnie. Ronnie não é um herói ao contrário do Harry. Ronnie é o melhor amigo. É aquele que sempre estará lá, mesmo que não queira. Melhores amigos, ninguém escolhe. Eles aparecem e assumem seu posto. Ronnie é o Jimmy Olsen do Superman Harry Potter. Ele guarda os segredos de seu amigo-herói, garante a retaguarda, é a segurança, mesmo sendo um adolescente quase assustado, inseguro, careteiro. Segurança nem sempre se define com alguém que bate quando o inimigo se aproxima. Ronnie é porto. Acolhedor. O Harry precisa dele porque Ronnie é praticamente a família dele. E Ronnie, além dessa cansativa função de melhor amigo, é também um adolescente. Ele também precisa ter coragem para chamar uma garota para o baile. Talvez tenha medo de chamar a garota certa. Talvez ainda não saiba muito bem. Ora, é difícil – e muito – ser adolescente.
E tem Hermione. Inteligente, completamente hábil em suas especialidades, espertíssima, quase uma estrategista. Numa história com Supermans e Jimmy Olsens, Hermione não tinha muito o que fazer a não ser ser uma Lois Lane. Forte, decidida, impulsiva, provavelmente sagitariana, briguenta, resmungona, ela nunca se dá por vencida. E se Ronnie é o abraço de Harry, Hermione é seu escudo. É aquela que sempre estará lá para ajudar a resolver a questão. Um fardo grande para uma garotinha. Aliás, para uma jovem. Hermione, além de segunda melhor amiga, também está crescendo, também quer que o menino certo (embora ela mesma não esteja tão certa assim) a convide para o baile. Ela quer estar linda porque as adolescentes sempre querem muito estar lindas (quando não se vestem de preto e ouvem Black Sabbath – tá, estas também querem). Hermione está crescendo também. Ela pode enfeitiçar ogros e retirar encantos, mas imagine como deve ser complicado demonstrar interesse por um garoto da sua idade!
O Prisioneiro de Azkaban, o filme, era sobre Harry, Ronnie e Hermione. Três amigos aprendendo a lidar com o mundo, começando a entender o que é deixar de ser criança. O filme de Alfonso Cuarón mudava completamente o foco da trama, que deixava de ser a história de três garotos numa escola de magia e passava a ser a história de três garotos. Quase não havia cenas sem um dos três protagonistas. Na verdade, quase não havia cenas com qualquer fala importante que não viesse de um dos três. Como não havia um torneiozinho para garantir a glória eterna ou um daqueles esquemáticos “trabalhos de Hércules” que resolviam a trama nos primeiros livros/filmes, o foco pode ser voltado para as personagens. Cuarón pôde desenvolvê-las, explicá-las melhor aos espectadores.
Em O Cálice de Fogo, Mike Newell devolve o caráter mais amplo à série, inclusive porque a história pedia isso. É obviamente delicioso – mais uma vez – acompanhar Harry nos mirabolantes desafios mágicos do torneio que virou a espinha dorsal do longa. Há inclusive uma cena maravilhosa, debaixo d’água, quando descobrimos quais os tesouros que Harry tem que recuperar numa das provas. Mas com tanta historinha para contar e um vilão para fazer ressurgir – por sinal, Ralph Fiennes, assustador, ótima escolha – os protagonistas não ganharam um tratamento mais dedicado, o que era o maior trunfo do filme anterior. Sim, há todo o dilema do baile, que nos coloca a par dos pontos fracos de nossos heróis e que é um capítulo à parte no seu crescimento, mas parece pouco perto do que foi apresentado antes.
Eu, provavelmente, nunca vou deixar de gostar de um filme ou de um livro de Harry Potter. Não que eu seja um grande fã, que eu tenha aquele vício de comprar e ler tudo relacionado à personagem. Não. Provavelmente eu nunca vou deixar de gostar de um filme ou de um livro de Harry Potter porque ele conversa comigo. Talvez minha infância seja mal resolvida – geralmente acham isso de quem coleciona bonecos de super-heróis – mas eu, nunca avaliação bem pessoal e, por isso mesmo, parcial acredito que o material é muito bom, as personagens são muito reais, as situações são de verdade. E acompanhar as histórias de três pessoas crescendo, virando adultas, descobrindo como devem reagir ao que a vida traz, é uma coisa verdadeiramente muito prazerosa para mim. Ver Neville Longbottom perder o medo e aparecer acompanhado no baile foi muito importante para mim. Eu fiquei orgulhoso.
Harry Potter e o Cálice de Fogo
[Harry Potter and the Goblet of Fire, Mike Newell, 2005]
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amo Harry Potter!
já li todos. quando terminei de ler o último fiquei muito triste, pois sabia que não poderia mais acompanhar essa série qe tanto amo e que espero ano após ano pelos filmes ://
mas também achei jk rowling uma “genia”, pois a historia não acaba de forma previsível e sem graça, é emocionante e fascinante.
gostei da forma como você descreve sobre HP, Chico!
amo todos os filmes deles!bkokas Evelyn Lyaasiinhaa
eu adoroharry potter
para min, e o unico filme
pra min e é o melhor, enter os melhores…
Eu acho o do Cuarón melhor, sim. Mas “detestei”, nossa?
Detestei o filme. Muito pior do que eu esperava… O enredo é absolutamente xexelento. Um imenso retrocesso em relação ao do Cuarón.
Nunca li dois textos sobre o novo HP (como estão chamando) que sequer concordassem ligeiramente…