Clint Eastwood testa o nosso amor a cada filme, seja incursando nos melodramas pessoais (Menina de Ouro, Gran Torino), seja biografando os heróis populares (A Conquista da Honra, Invictus). Às vezes, o cineasta acerta mais; às vezes, acerta menos. Mas, como mostra seu filme mais recente, sempre consegue emprestar dignidade à história que está contando. Além da Vida é um filme espírita. Segue três personagens que tiveram experiências muito próximas a morte. Um tema em que é naturalmente difícil se manter o equilado. Clint tira a missão de letra.
Ao contrário do que acontece no cinema de coincidências celebrado hoje, as histórias de Matt Damon, Cécile de France e dos gêmeos franceses se unem de maneira delicada, quase discreta, sem os estardalhaços típicos de Haggis e Iñarritu. Aqui, o cada um vale muito mais do que os enlaces comuns nos roteiros truqueiros deste pessoal. E Clint, cujo maior talento talvez seja apresentar seus personagens com um carinho imenso, desenvolve as três histórias do filme da maneira mais simples (e mais bonita). E isso é fundamental para dar credibilidade a histórias de fantasmas.
E o diretor tem uma preocupação quase que jornalística em abordar todos os lados da questão: vai de personagens que viveram suas experiências com a morte (escrever que eles acreditam que viveram seria bobo porque o filme assume estas experiências como verdadeiras) ao mesmo tempo em que abre espaço para o ceticismo (sem desaboná-lo) e para os oportunistas de plantão em qualquer esfera de atividades. A partir desse equilíbrio, que não existe em Nosso Lar, por exemplo, que condena os descrentes e ignora quem se aproveita da fé alheia, o filme de Clint ganha seriedade. Nada é extraordinário nesse novo trabalho, à exceção da impressionante sequência de filme-catástrofe da abertura, mas tudo merece o maior respeito.
Além da Vida
[Hereafter, Clint Eastwood, 2010]
Exatamente, Layo. Não chega a ser um grande filme do Clint.
Diego, com o que exatamente você não concorda?
OK, Maha, espiritualista. Mas fic claro pra mim que o Clint acredita em tudo aquilo.
Concordo com a resenha. Tanto que o filme é tão sincero e simples que fica difícil falar mal da inocência do roteiro em vários momentos previsíveis. Tem horas que dá impressão de estar vendo um daqueles bons dramas dos anos 80. Mas senti falta da mão do diretor que já fez tantas grandes cenas e criou outras tantas quase-fábulas norte americanas extraordinárias, usando seu termo.
DIscordo de vc, Chico. A simplicidade e a delicadeza desse filme são extraordinárias!
Pô, Chico, espírita não. Se tem uma coisa que é pra lá de boa no filme (que tem um roteiro fraco), é justamente o fato de fugir de explicações religiosas. Os personagens buscam ou têm suas relações com o pós-vida, mas nenhum sabe o que acontece, para onde vão, e todas essas perguntas que as religiões – incluindo o espiritismo – tentam responder. Bote um espiritualista aí, mas espírita não.