A evolução de Caesar, o protagonista de Planeta dos Macacos: A Origem, em seu quarto, dentro da casa, na primeira meia hora do filme incomoda um pouco. Os efeitos especiais são visíveis demais e deixam as cenas, bem idealizadas, excessivamente virtuais. A má impressão some nos momentos emocionais do personagem. A performance digital de Andy Serkis, um especialista no assunto, é delicadíssima. Cada detalhe ganha contornos e estofos diferenciados e a tradução dessa interpretação para o chimpanzé criado pelo computador é exata.
Serkis, por sinal, é o astro-maior do filme. Ele é a principal arma do diretor desconhecido, Rupert Wyatt, para imprimir ao material um caráter épico. O cineasta conduz o filme num crescendo sem fim, com algumas cenas realmente memoráveis. A primeira delas, a perseguição ao vizinho, rouba o fôlego do espectador. As demais vêm como capítulos da ascensão dos macacos: às vezes, elas são simples, como o “diálogo” entre Caesar e Maurice ou emblemáticas, como a palavra que calou o cinema. Às vezes, são apenas imagens poderosas, como a cavalgada de protagonista ou a descoberta das armas.
Wyatt costura tudo isso ao universo criado pela série original, com uma citação à Icarus, a nave do filme original, “pontas” do Charlton Heston e homenagens a vários atores dos primeiros longas nos nomes dos personagens. O próprio filme é um remake de A Conquista do Planeta dos Macacos. Um remake, não. Uma reimaginação, como se convencionou chamar já que apenas a proposta é a mesma, a história segue rumos diferentes.
O diretor trabalha com arquétipos em seu exército: há o líder, o conselheiro, o mártir. Há as intrigas shakespereanas, que parecem inspirar de certa forma a própria história do filme, seja na relação pai-e-filho, seja nos bastidores do “palácio”. Tudo usado sem barulho, com discrição e respeitando o caráter de filme B que o longa carrega consigo. E Caesar, líder, rei, outsider, junta tudo isso. Ave, Caesar!
Planeta dos Macacos: A Origem
[Rise of the Planet of the Apes, Rupert Wyatt, 2011]
Acho que o filme resguarde suas semelhanças com A Conquista do Planeta dos Macacos, sim, mas não é uma reimaginação, muito menos refilmagem. Em A Fuga do Planeta dos Macacos, Cornelius conta a história sobre o primeiro símio a dizer “não”. E essa é a história que Planeta dos Macacos: A Origem conta.
Agora, realmente, a cena que calou o cinema. Poucas vezes vi tamanha reação dentro de uma sala.
Forte abraço, meu caro!
Não consegui encontrar tantas qualidades quanto você citou. Vi algumas delas mais como fatores risíveis do que como algo realmente engenhoso. Mesmo assim, é um bom filme que superou minhas expectativas.